O que explica o segundo maior lucro líquido da história da Petrobrás?

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps

A Petrobrás publicou, nesta quinta-feira (7) o primeiro resultado financeiro anual sob o governo Lula, um lucro líquido de R$ 124,6 bilhões. Apesar de ter sido o segundo maior lucro líquido da história da estatal, os jornais destacam a queda de 33,8% em relação a 2022. Neste texto iremos explicar os principais fatores gerados deste resultado. Além disso, trataremos também da questão dos investimentos e dividendos da empresa.

Gráfico 1 – Lucro líquido anual da Petrobrás entre 2010 e 2023 (em bilhões de R$)

 

Fonte: Petrobrás

A primeira questão que temos que olhar é o patamar dos preços dos produtos vendidos pela estatal. A começar pelo próprio barril de petróleo, responsável direto por 23,4% das receitas da companhia e, indiretamente, por 92% das receitas totais. Apesar de estar em um patamar ainda muito elevado, em termos históricos, o preço do barril de petróleo em Reais em 2023 caiu 21% se comparado a 2022. Ainda assim, R$ 412 pelo barril brent é quase o dobro do preço médio em reais dos últimos 15 anos. Isto é, o preço do barril caiu, mas ainda está bastante rentável para a companhia.

Gráfico 2 – Preço médio anual do barril Brent em R$

 

Fonte: Petrobrás

O segundo fator é o preço dos derivados, responsável diretamente por 67% das receitas líquidas da companhia. Em 2023 os preços no mercado interno caíram 20% em relação a 2022. E antes que possam responsabilizar o fim do PPI, a Petrobrás vendeu apenas um pouco abaixo dos preços internacionais em 2023, mais especificamente 5% abaixo na gasolina e 4% abaixo no diesel S-10, segundo dados da ABICOM. Nada fora do que já vinha acontecendo no governo Bolsonaro que, por conta das pressões políticas e da inflação, vendia os produtos em média abaixo do PPI. O que mostra que há espaço para preços menores nos derivados, sem prejudicar a solidez financeira da companhia.

Gráfico 3 – Preço médio de derivados básicos - Mercado interno (R$/bbl)

 

Fonte: Petrobrás

Com isso, as receitas de vendas da Petrobrás caíram 20,2% em 2023, próximoà proporção da queda do fluxo de caixa operacional (-15,5%) e do EBITDA – Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (-23%).

Outro componente importante é que a Petrobrás em 2022 teve ganhos de capital com os resultados dos Acordos de Coparticipação relacionados aos Excedentes da Cessão Onerosa (ECO) dos campos do Pré-Sal deSépia e de Atapu. Em 2022 a Petrobrás recebeu R$ 21,6 bilhões deste acordo (em 2023 a estatal recebeu apenas R$ 1,4 bi deste acordo). Só esse fato explica 37% da queda do lucro deste ano. Além disso, a Petrobrás teve um impairment, em 2023, R$ 6 bilhões maior do que o de 2022, o que determina mais 11% da queda do lucro líquido. Isto é, se somarmos estes dois fatores já se explica mais 48% da queda do lucro da estatal.

Investimentos e dividendos

Outro ponto importante para olharmos é o seu investimento. O Jean Paul Prates vem anunciando grandes mudanças na área de investimento da Petrobrás, fruto das promessas de campanha do Lula. De fato, o investimento aumentou. Em 2023 a estatal investiu US$ 12,67 bilhões, 29% a mais do que em 2022. Claro, ainda é inferior ao que a Petrobrás praticou ao fim da década de 2000 e início de 2010, mas já é maior investimento desde 2018.

Gráfico 4 – Investimentos anuais realizados pela Petrobrás (US$)

 

Fonte: Petrobrás

Este aumento de investimentos também impacta no lucro, tendo em vista que é um aumento de despesa (R$ 14 bilhões a mais do que em 2022).

Por fim também chama a atenção a questão dos dividendos. A Petrobrás pagou em 2023 o equivalente a 29% do total de dividendos distribuídos por empresas listadas na B3. Em 2022 esse percentual havia sido de 39%, como pode ser visto na tabela abaixo.

Fonte: https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/empresas/noticia/2024/01/19/veja-as-empresas-que-mais-pagaram-dividendos-em-2023.ghtml?_gl=1*1yqjja0*_ga*MjA5MTQyNDY5NC4xNzA1MzIwMzkz*_ga_47NEHP2QTX*MTcwNTY3NjU0OS4zLjEuMTcwNTY3NjU2MS4wLjAuMA

A política de dividendos da Petrobrás, de pagar 45% do fluxo de caixa livre, já é excessivamente bondosa com os acionistas e ruim para a estatal. Agora a chantagem (com queda nos preços da ação no Brasil e EUA) é que ela mantenha pagamentos permanentes de dividendos extraordinários, isso é, superiores ao que já está nesta fórmula. A Petrobrás vai distribuir R$ 72,4 bilhões no que se refere ao resultado do ano de 2023, isso significa 58% do lucro líquido que ela teve em 2023. É um número extremamente alto para a empresa que tem os maiores volumes de investimentos de todo o Brasil e que precisa acelerá-los com aumento de produção de derivados e transição energética no radar. E isso já não basta, querem mais. Os especuladores querem o que aconteceu no governo Bolsonaro, quando aPetrobráschegou a distribuir mais dividendos do que teve de lucro, um saque à companhia.

Em síntese, a Petrobrás diminuiu seu lucro por conta da (i) queda dos preços de mercado dos seus produtos (petróleo e derivados), (ii) ausência de ganhos extraordinários (Cessão Onerosa) e perda com impairment, e (iii) aumento nos gastos com investimentos.  Por outro lado, segue com a expansão dos investimentos, o que é extremamente positivo, mas ainda com preços dos derivados mais caros do que precisaria para ofertar preços justos à população preservando a sua saúde financeira. Ao mesmo tempo em que continua distribuindo mais da metade do seu lucro para acionistas – quepor sua vez acham que é pouco, e continuam a chantagear a companhia.