Lula tem razão ao culpar postos. Margem de distribuição e revenda de combustíveis quase dobrou nos últimos anos

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps

Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps

Nesta segunda-feira, 17, o presidente Lula isentou publicamente a Petrobras de responsabilidade pelo aumento dos preços dos combustíveis, atribuindo a alta ao reajuste do ICMS, que subiu em 6 centavos para o diesel e 10 centavos para a gasolina desde 1º de fevereiro, e à atuação dos postos de gasolina. Lula chama a atenção para um grande problema do setor, que vem se aprofundando silenciosamente nos últimos, o aumento estratosférico da margem de distribuição e revenda dos combustíveis.

Dois fatores são as principais explicações para esta disparada da parcela que fica com as empresas da distribuição e revenda. Primeiro, a confusão nos combustíveis, quando a própria Petrobras reajustava toda hora para cima e para baixo seus preços em função do PPI e da grande oscilação dos preços internacionais, ao longo de 2021 e 2022. Só nestes dois anos, a estatal fez 24 reajustes na gasolina, 20 no diesel e 13 no GLP. Esta confusão fez com que os consumidores perdessem qualquer referência de preços, possibilitando que distribuidoras e revendedoras aumentassem suas margens sem ninguém perceber.

Quando o preço do combustível subia, a margem também subia, mas quando o preço caía, a margem não descia na mesma proporção. 
Segundo, a privatização da BR e da Liquigás. Estas duas empresas serviam como balizadoras destes mercados extremamente oligopolizados. Quando foram privatizadas, em julho de 2021 para o caso da BR e dezembro de 2021 para a Liquigás, estas empresas detinham 25% e 20,5% de marketshare, respectivamente, de seus setores. Na distribuição de gasolina, apenas outras duas empresas eram relevantes, a Ipiranga (18%) e a Raízen (17%), no GLP tínhamos outras três, Nacional (21%), Supergas (19%) e Ultragaz (12%). No caso da Liquigás, a venda foi para uma outra concorrente, a Copa, que detinha 6% do mercado, concentrando ainda mais o mercado. 

A privatização da BR e da Liquigás precederam esta subida enorme da margem de distribuição e revenda.

Vejamos agora os números.

Como podemos ver no Gráfico 1, a margem de distribuição e revenda da gasolina vem subindo constantemente desde 2021. No ano de 2020, a margem ficou na média de 64 centavos. Mesmo se corrigirmos este valor pela inflação do período (IPCA de 24%), em valores atuais a margem seria de 79 centavos, muito abaixo dos R$ 1,12 do mês de fevereiro. Em termos nominais, a margem de distribuição e revenda da gasolina subiu 75% se compararmos a média de 2020 (pré-privatização da BR e do caos dos preços da pandemia/PPI) e fevereiro de 2024. Já em termos reais (descontando a inflação), este valor subiu 42% no mesmo período.
 

Gráfico 1 – Valor médio nacional da margem de distribuição e revenda da gasolina comum (jan/19 a fev/25)

Fonte: Fonte: Relatório do Mercado de Derivados de Petróleo/MME e Petrobras

No caso do GLP a tendência foi a mesma. Se compararmos a média da margem de 2020 com a atual, tivemos um crescimento de 101%. Naquele ano, o valor médio da margem era de R$ 27,14 (R$ 33,65 em valores reais), hoje a margem do GLP é de R$ 54,46, o que dá um aumento de R$ 27,32 (ou de R$ 20,81 se compararmos os valores reais). Desde a privatização da Liquigás em dezembro de 2021, o aumento foi de 45% (ou 29% em termos reais).

 

Gráfico 2 – Valor médio nacional da margem de distribuição e revenda do GLP 13kg (jan/19 a fev/25)


Fonte: Fonte: Relatório do Mercado de Derivados de Petróleo/MME e Petrobras

Sim, o Lula está certo. O brasileiro só não paga menos na gasolina e no gás de cozinha por conta do aumento das receitas das distribuidoras e revendedoras. Se mantivéssemos as margens de 2020, corrigindo apenas pela inflação, poderíamos ter uma gasolina 33 centavos mais barata e um GLP R$ 20 mais barato. É considerável, né? Imaginem se o gás de cozinha custasse R$ 86, e não R$ 107.

É urgente que a Petrobras volte à distribuição. Assim a estatal poderá retomar o papel de balizadora de preços deste mercado, e trabalhar para que estas margens voltem à patamares econômicos aceitáveis. Não podemos deixar que os combustíveis do país sejam tão mais caros só para enriquecer donos de distribuidoras e postos.