Por Eric Gil Dantas e Adaedson Costa
Por Eric Gil Dantas, economista do Ibeps e Adaedson Costa, secretário-geral da FNP
Neste artigo, analisaremos o histórico recente da rentabilidade dos planos Petros, seguido de uma comparação com o desempenho de outros fundos de pensão no ano de 2024. O objetivo é avaliar a Petros não apenas em relação a si mesma, mas inseri-la no contexto dos fundos de pensão do país. Como o leitor perceberá ao final deste texto, os planos Petros vêm passando por um processo de recuperação e chegaram a 2024 com os PPSPs superando a meta nacional, atrás apenas de um único plano entre os analisados: o Novo Plano BD da FUNCEF. Enquanto o PP-2 e PP-3 tiveram rentabilidade menor, mas em linha, e até mesmo com melhores números, com outros planos CD e CV.
Os planos da Petros enfrentaram, recentemente, anos difíceis, provocados em grande parte pela elevação da taxa SELIC e pela consequente desvalorização dos títulos públicos marcados a mercado entre 2020 e 2022. A partir de 2023, com a política de imunização já implementada nos PPSPs e com as taxas de juros elevadas no país, o desempenho da Renda Fixa passou a beneficiar a rentabilidade dos planos. Ainda que o PP-2 e o PP-3 tenham enfrentado dificuldades em 2024 devido à desvalorização do mercado acionário, a recuperação da B3, que bateu novos recordes em 2025, levou todos os planos a apresentarem resultados acima da meta até maio. Isso deverá compensar, ao menos parcialmente, as perdas do ano anterior para o PP-2 e o PP-3.
Como mostra a Tabela 1, nos últimos sete anos os PPSPs superaram a meta de rentabilidade em quatro ocasiões, sendo o melhor desempenho o de 2019, quando superaram a meta em 13,26% e 12,52%.
Por sua vez, o PP-2 superou a meta em apenas dois dos oito anos analisados. Esse plano tende a apresentar resultados melhores após as recentes alterações promovidas com base na nova resolução do Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC), publicada em dezembro, que autorizou os planos CV a marcarem seus títulos pela curva. A partir disso, a Petros implementou duas medidas: a segregação de carteiras e a imunização dos investimentos.
Com a segregação de carteiras, o plano passou a ter duas gestões distintas: uma carteira CD, que reúne os participantes ativos e os aposentados que optaram por renda financeira, e uma carteira BD, voltada aos aposentados com benefício vitalício. Além disso, a carteira BD do PP-2 passou a contar com imunização, nos moldes do que já havia sido feito nos PPSPs. A estratégia consiste na compra de títulos públicos federais com vencimento mínimo de cinco anos, marcados na curva e alinhados ao fluxo futuro de pagamentos dos benefícios. O objetivo é que a imunização atinja 95% dos investimentos dessa carteira. Isso reduz significativamente a exposição ao risco de mercado e oferece maior segurança para quem já recebe ou irá receber benefício vitalício, já que os títulos públicos têm oferecido retornos superiores à meta atuarial. A imunização também foi aplicada, em menor escala, aos aposentados e pensionistas optantes pelo CD.
Já o PP-3 superou a meta apenas uma vez, em 2023, com um rendimento 0,23 ponto percentual acima do objetivo. Esse plano sofreu tanto com as oscilações nos títulos públicos quanto com a volatilidade do mercado acionário. Até o final de maio, no entanto, o PP-3 já acumulava rentabilidade 1 p.p. acima da meta.
Tabela 1 – Rentabilidade, Objetivo de Retorno e Diferença para os 4 principais planos da Petros entre 2018 e 2024
Fonte: Petros
No cenário nacional, os planos administrados por Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs) apresentaram, em 2024, uma rentabilidade média de 6,27%, pouco acima da inflação de 4,83%. Entre os 13 planos de fundos de pensão analisados neste estudo – excluindo os da Petros e a média geral – observam-se resultados bastante variados, o que é natural no setor. O maior rendimento foi registrado pelo Novo Plano de Benefícios BD da FUNCEF, com 11,27% no ano, impulsionado por títulos públicos (a FUNCEF também adotou recentemente uma estratégia de imunização). Em contrapartida, houve desempenhos bastante negativos, como os três planos da PREVI — os piores da amostra — que enfrentaram fortes críticas no início do ano. A PREVI foi impactada fortemente pela desvalorização da Renda Variável, como no caso das ações da Vale, que caíram de R$ 77,20 para R$ 54,55 em 2024 (o Plano PREVI 1 detém cerca de R$ 30 bilhões em ações da companhia).
Tabela 2 – Rentabilidade de 17 planos de fundos de pensão selecionados e a média nacional de EFPCs para o ano de 2024
E onde se posiciona a Petros diante desse conjunto de fundos de pensão? Podemos dividir a análise em dois grupos. Primeiro, os PPSPs, que ocupam a 2ª e 3ª posição da tabela, com rentabilidade bem acima da média das EFPCs — mais de 3 pontos percentuais superiores. Em segundo lugar, os planos PP-2 e PP-3, que se aproximam da média geral de 6,27%.
A distinção entre planos BD e CV/CD, aplicada à Petros, também se mostra adequada ao conjunto dos fundos de pensão. O ano de 2024 foi excepcional para a Renda Fixa, mas ruim para a Renda Variável. Isso favoreceu os planos BD, que investem predominantemente em Renda Fixa, enquanto os planos CV e CD — com maior exposição à Renda Variável e aos investimentos estruturados — apresentaram rentabilidade inferior (o Ibovespa caiu 10% no ano).
Agora é avançar na participação do fundo
A Petros tem apresentado avanços claros na política de investimentos, especialmente com a adoção da estratégia de imunização. No entanto, ainda há muito a ser feito para garantir a eficiência da gestão.
É fundamental compreender que os planos de previdência fechados não podem operar como ilhas — sobretudo aqueles administrados por empresas estatais de capital não dependente. Fortalecer a posição dos participantes nesses fundos exige ampliar sua participação na gestão e tornar os estatutos mais robustos, de modo a reduzir a ingerência externa, especialmente em tempos de crises políticas.
A constituição de comissões de acompanhamento de investimentos e de administração é essencial para subsidiar e qualificar os debates nas reuniões do Conselho Deliberativo (CD) e do Conselho Fiscal (CF).
Outro ponto crucial é a promoção de cursos de formação para os participantes. Atualmente, um dos principais desafios é o desconhecimento, por grande parte dos participantes, sobre o funcionamento dos planos de previdência e as respectivas responsabilidades das patrocinadoras e dos próprios participantes.
É também dever da Petros buscar o aprimoramento contínuo de sua gestão, incorporando boas práticas adotadas por fundos de pensão de outros países, além de fomentar espaços de diálogo, como fóruns de debate com os participantes.
Com uma perspectiva de longo prazo, é preciso considerar os efeitos da reforma da previdência, que praticamente inviabilizou a aposentadoria pelo INSS como um meio digno de assegurar qualidade de vida na velhice. Esse debate precisa ser promovido pela Petros, sobretudo entre os participantes do PP-2.
Ainda hoje, há pessoas que optam por não aderir à Petros por acreditarem, equivocadamente, que os investimentos individuais no mercado financeiro trarão melhores resultados. Trata-se de uma ilusão perigosa, pois, quando há participação das patrocinadoras e uma política de investimentos responsável — com foco em ativos de baixo risco —, os fundos fechados se mostram uma alternativa muito mais segura e sustentável para garantir uma aposentadoria digna.