Litoral Paulista suspende greve e aprova proposta da Petrobrás

Foi com o sentimento de que realizaram uma greve vitoriosa, mas que era possível avançar ainda mais, que os petroleiros do Litoral Paulista aprovaram na noite desta quinta-feira (24/10) a última proposta da companhia (leia aqui) - apresentada em sua versão final na quarta-feira (23/10). A decisão foi tomada em assembleia, na sede (Santos) e sub-sede (São Sebastião) do Sindipetro-LP.

Além disso, os trabalhadores aprovaram a suspensão da greve por tempo indeterminado. O retorno ao trabalho será realizado apenas amanhã (25/10), com a rendição dos turnos na parte da manhã em todas as unidades que estavam em greve.

No total, 277 trabalhadores votaram a favor da proposta da companhia e 98 contra. Além dos votos na sede e sub-sede, também foi contabilizada a votação feita pelos trabalhadores das plataformas de Mexilhão e Merluza, que ficam na Bacia de Santos.

A realização desta assembleia foi aprovada por unanimidade em assembleia anterior, realizada na terça-feira com a participação de petroleiros ativos, aposentados e pensionistas na sede e sub-sede.

Como já é tradição, os trabalhadores na assembleia aprovaram por unanimidade a taxa assistencial de 2% aos não-sócios e, por ampla maioria, votaram pela manutenção da assembleia permanente e Estado de Greve. O objetivo é seguir alerta para qualquer tentativa da companhia de realizar punições contra os trabalhadores, uma vez que - ao contrário do que a FUP diz - não há nenhuma garantia na proposta da empresa de que não existirão retaliações aos ativistas.

Por fim, os trabalhadores votaram - por unanimidade - uma moção de repúdio à FUP por ter desmontado a greve e a unidade da categoria com o indicativo de aceitação em um momento de grande mobilização dos trabalhadores, em um momento em que era possível conquistar muito mais.

Parabéns aos petroleiros! A categoria petroleira, assim como toda a direção que esteve a frente do processo e a equipe de apoio (funcionários do Sindicato) que garantiu nos bastidores a estrutura da mobilização, está de parabéns pela forte greve realizada durante oito dias consecutivos. Em muitas bases a produção foi afetada parcialmente, em todas elas os trabalhadores se enfrentaram com assédio moral, perseguições e tentativas da companhia de sufocar a luta. Se enfrentaram também, diretamente, com a política econômica do governo Dilma, que entregou nas mãos das empresas estrangeiras 60% do campo de Libra através do leilão deste campo - materializando a maior privatização da história do país.

É bem verdade que não conseguimos evitar este crime de lesa-pátria, mas seguiremos lutando pela revogação do leilão de Libra. De qualquer forma, conseguimos inserir na categoria e na sociedade o debate sobre a privatização do petróleo brasileiro. Não por acaso, a presidente Dilma foi obrigada a se manifestar em cadeia nacional de televisão sobre o leilão.

Está claro para toda a categoria que os avanços conquistados no ACT foram fruto - única e exclusivamente - da greve. A empresa saiu do pedestal, assumiu uma postura defensiva e realizou alguns avanços - mesmo que tímidos em nossa opinião.

Mas se por um lado a categoria sai fortalecida, pois recuperou em sua consciência e na prática o poder que sempre teve nas mãos, por outro também é verdade que era possível conquistar muito mais. Infelizmente, no momento de maior radicalização e força da greve, a FUP resolveu desmontar a mobilização com um indicativo de aceitação sustentado por uma mentira: a de que a Petrobrás havia garantido de que não realizaria punições. Pelo texto da proposta da empresa está claro que não é verdade. O que a companhia "garante" é "discutir com os sindicatos" antes de tomar qualquer medida sobre possíveis excessos cometidos. Oras, que garantia é essa? Nenhuma! Por isso, dizemos com todas as letras que mais uma vez fomos traídos pela outra federação.

Era possível muito mais! A pauta da categoria continuou sendo ignorada; seguimos por mais um ano sem aumento real no salário base, sem a revisão do PCAC, sem o fim da tabela congelada e sem tocar em muitas outras bandeiras históricas como periculosidade pra valer, AMS para os pais e 100% custeada pela companhia, progressão do ATS, Anistia, reposição das perdas salariais e muitas outras reivindicações.

Não por acaso, a FNP e o Sindipetro-LP indicaram na última quarta-feira (23/10) a rejeição da proposta e a manutenção da greve quando ainda havia a possibilidade de reverter o quadro de assembleias. Com o quadro nacional definido, com várias bases já aprovando a proposta, o cenário ficou muito mais difícil e a própria categoria sentiu que não era mais possível manter a greve apenas em algumas bases.

Por isso, nesta quinta-feira (24/10), a FNP reavaliou o cenário e indicou a suspensão da greve, mas a manutenção da rejeição porque, em hipótese nenhuma, indicaríamos a aceitação de uma proposta discriminatória.

Embora não possam mais fazer greve, os aposentados e pensionistas também foram à luta nesta campanha. E também saudamos estes companheiros por isso. Durante a campanha reivindicatória estiveram em diversos piquetes e atos da categoria, voltando ao chão de fábrica para se solidarizar com os trabalhadores ativos. Além disso, fizeram uma bonita ocupação no Edise, no Rio de Janeiro, organizada com o apoio da FNP, que influenciou diretamente na formação de uma comissão pela presidente Graça Foster e na decisão da companhia de realizar acordos judiciais sobre os níveis de 2004, 2005 e 2006.

Entretanto, segue claro para nós a necessidade de que a categoria avance ainda mais na unidade entre ativos, aposentados e pensionistas para derrotar definitivamente as direções traidoras e a política discriminatória da companhia.

Por fim, nos apropriamos de uma citação compartilhada pelos companheiros da Oposição A Base Presente, do Sindipetro Unificado. Em nossa opinião, ela reflete as lições que devemos tomar desta bonita e vitoriosa greve dos petroleiros.

* "As lutas operárias, por mais desgastantes que sejam, resultam em um aprendizado. Recuperam da luta existente na sociedade a relação maravilhosa da amizade. Não existe algo mais enriquecedor do que poder olhar para um companheiro e dizer nós estamos todos juntos, nossos ideais são comuns, o coletivo é nossa segunda família, se precisar arriscar a minha vida em um incêndio ou vazamento para salvar a tua, não pensarei duas vezes, não fique triste, pois vencendo ou perdendo sairemos juntos da situação. Estamos lutando por nossas utopias de vida e isso é um sinônimo de estar vivo. O que não luta ou não sonha está decretando aos poucos a morte de sua alma".

* LUCENA, Carlos Alberto, Aprendendo na Luta: A História do Sindicato dos Petroleiros de Campinas e Paulínia, São Paulo, Ed. Publisher Brasil, 1997.