Perigo à vista
O descaso dos gestores da UN-BS frente a prevenção e propagação do coronavírus nas plataformas já virou caso de calamidade. As novas vítimas dessa conduta negacionista são os trabalhadores da P-66.
A unidade está à beira de um surto de Covid-19 e tem contado com a própria sorte para lidar com a situação. Na terça-feira (06), um operador desembarcou com sintomas da doença. Logo em seguida fez o RT-PCR que atestou a contaminação. Isso entre aspas seria o padrão, se caso, a empresa tivesse seguido todos os protocolos o que, na prática, a realidade é outra. O petroleiro estava embarcado há cinco dias e colocaram no relatório como se não tivesse embarcado. O que, trocando em miúdos, a empresa quis dizer que ele não ficou doente enquanto trabalhava, mas sim em dia de folga. Se isso não é negar a propagação da doença na embarcação não sabemos o que é!
O que gostaríamos de saber é como os gestores da unidade não vão conseguir manter essa “conversa” já que um dos trabalhadores que teve contato com o petroleiro infectado também testou positivo. Se continuar nessa toada, para a Petrobrás, todos os tripulantes contaminados estavam todos de folga e a unidade operou sozinha. Ontem (06) mesmo mais quatro petroleiros também apresentaram sintomas.
A coisa não para por aí! No final de semana passado um bote desceu para fazer testes. A embarcação apresentou problemas e ficou à deriva. O incidente aconteceu às 11h e graças a um barco pesqueiro os tripulantes foram resgatados somente às 16h. Um dos trabalhadores que estavam no bote testou positivo. Depois disso, mesmo com o resultado todos ficaram confinados, apenas um dia, em um camarote e voltaram para a área.
Uma técnica química embarcou sem fazer o monitoramento da Covid-19. A tarefa foi sendo feita a bordo como se isso fosse padrão. Os petroleiros da P-66 que tiveram contato com todas essas pessoas estão com medo de ter contraído a doença. A situação é alarmante e poderia ser resolvida se não houvesse tanta omissão.
Diante desse panorama de terror ficam alguns questionamentos: será a UN-BS vai deixar que a P-66 entre em lockdown como a Plataforma de Mexilhão e a P-67? Serão tomadas medidas protetivas propostas pelos sindicatos em conjunto com os trabalhadores? A empresa continuará mantendo o foco apenas no lucro?
Como diz o ditado popular “não há nada tão ruim que não possa piorar”. No caso da P-66 isso pode ser visto na prática. Além de querer “enfiar goela abaixo” da força de trabalho a jornada de 21 dias, que não vai resolver os problemas de infecção, a Petrobrás pretende anexar à P-66, ainda este mês, um flotel — Unidade de Manutenção e Segurança (UMS) — que no mínimo duplicaria o quantitativo de trabalhadores circulando a bordo e com isso, aumentando a possibilidade de surtos de Covid-19.
A realidade é que a Petrobrás está fazendo de tudo para não parar a produção da plataforma. A situação é gravíssima já que com tantos trabalhadores doentes a produção da P-66 não foi reduzida. O Sindipetro-LP, apesar de não ter sido notificado, está acompanhando o caso de perto e exige que a Petrobrás emita a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) já que os trabalhadores foram contaminados no exercício da profissão.
Para os trabalhadores do Sistema Petrobrás que contraem a doença durante o exercício da sua atividade ou no transporte, a não comunicação do acidente de trabalho pode trazer dificuldades de garantia de direitos considerando ser uma doença nova que ainda pode apresentar sequelas futuras para o cérebro e para os pulmões. Com essa medida também será possível determinar antecipadamente a contaminação a bordo.
O Sindicato orienta que os trabalhadores procurem seus diretores de base e liberados para abertura da referida CAT, caso a empresa não faça isso.
A Petrobrás já afirmou várias vezes que adota procedimentos “robustos” em todas as suas unidades desde o início da pandemia, para evitar o contágio. No entanto, como temos denunciado, a manutenção dos trabalhos em plena carga, mesmo com efetivo reduzido, aglomeração nos refeitórios e falta de fiscalização e cobrança para testagem e medidas de distanciamento dos trabalhadores terceirizados, dentre outras falhas da empresa contribuem para que os infectados só aumentem.
Setoriais
Os dirigentes do Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista promovem nesta quarta-feira (07), às 19h, setorial para esclarecer dúvidas sobre a escala de trabalho de 21 dias imposta pela Petrobrás. A participação de todos é importante já que a escala proposta pela empresa pode agravar ainda mais o quadro de acidentes nas plataformas. Os trabalhadores que não puderem participar da reunião de hoje terão mais duas oportunidades. A primeira acontece nesta sexta-feira (09), às 10h, e na próxima segunda-feira (12), às 17h. Os petroleiros e petroleiras que quiserem participar de alguma das setoriais devem entram em contato com os diretores do Sindicato (clique aqui) e solicitar o link de acesso.