Parada de manutenção
A situação dos trabalhadores da Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato (UTGCA), em Caraguatatuba, está a cada dia mais difícil. Os gestores que são escolhidos para a vaga de gerente geral da unidade estão se superando a cada dia. Entra um, sai outro e parecem que eles disputam quem comete mais atos graves contra a força de trabalho. O atual GG, ao que tudo indica, resolveu mostrar que é discípulo ferrenho de Jair Bolsonaro e administra a unidade com a mesma conduta que o Presidente da República rege o país. Intransigência, truculência, autoritarismo e não acatar determinações da justiça faz parte do rol de práticas do gestor.
A última “canetada” dele foi ignorar o que foi estabelecido em uma mediação junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT) em relação a evitar contaminações entre a força de trabalho durante a parada de manutenção que acontece na unidade. O GG autorizou um gerente setorial, que mora longe, a passar uns dias no alojamento do sobreaviso. A “hospedagem” tem certas regalias que incluem café da manhã e jantar. Enquanto isso, trabalhadores do administrativo não têm direito a um pão se quer.
Tal atitude é muito similar com as regalias que existem entre os altos cargos do exército. Haja vista, o salário de R$ 228,2 mil que o general Joaquim Silva e Luna recebe mensalmente para “comandar” a Petrobrás. Esse valor equivale ao que é pago pela mão de obra de mais de 230 trabalhadores juntos.
Com o gerente setorial no alojamento da unidade, deslocaram o pessoal da mecânica, que ficava no local, para que esse gerente pudesse ter um quarto exclusivo. Tudo isso está acontecendo em plena parada de manutenção onde a ordem era reduzir o efetivo devido à pandemia. A coisa não para por aí. Um dos mecânicos que estava na unidade apresentou sintomas gripais, e com isso, o outro trabalhador que ficou no mesmo alojamento que ele precisou desembarcar, deixando a unidade sem mecânicos.
São tantos comparativos feitos pela força de trabalho que a coisa chegou ao patamar haver similaridades com as supostas rachadinhas da família Bolsonaro ao Plano de Prêmio por Performance (PPP), criado em 2019, que contempla todos os trabalhadores da Petrobrás, com ou sem função de liderança. O GG já afirmou que quem tem cargo mais elevado na empresa tem que ser mais bem avaliado no Gerenciamento de Desempenho (GD) e com, isso ganhar mais PPP que os demais. “Se isso não é rachadinha não sei mais o que é” é o principal comentário dos trabalhadores.
Essa não é a primeira vez que gerentes da UTGCA descumprem decisões na esfera judicial. Por diversas vezes o setor da manutenção e da operação de facilidades elétrica ficou com o quadro funcional incompleto, principalmente no período noturno, descumprindo a liminar proferida pela juíza daquela comarca. Outro exemplo disso foi que a gestão da unidade que desemplantou um dirigente sindical do Sindipetro-LP que após liberação para se tornar diretor liberado. Essa atitude contraria o assinado em Acordo Coletivo de Trabalho (ACT). A mesma linha seguida por Bolsonaro ao atacar as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).
A gestão da UTGCA também mente junto ao MPT onde assumiu o compromisso de montar um restaurante de campanha para a força de trabalho durante a parada de manutenção. Na inspeção, feita pelos dirigentes do Sindipetro, ficou claro que os protocolos de segurança no restaurante são seguidos apenas para os trabalhadores próprios e os terceirizados almoçam fora do local sem nenhuma condição de segurança sanitária. Segundo a chefia da unidade, os contratados almoçam no shopping. Em diligência, os representantes do Sindipetro-LP atestaram que esses trabalhadores estão fazendo as refeições em um restaurante na fazenda ao lado de forma bastante precarizada e sem nenhum tipo de cuidado sanitário contra o coronavírus. Diante dessa realidade, o Sindicato irá entrar com denúncia junto ao órgão para que a empresa cumpra o acordado entre as partes.
O descaso com a vida e incentivo às aglomerações também são características que se convergem entre ambos personagens aos olhos da força de trabalho. Além disso, tem o negacionismo em aguardar a vacinação e incentivar o aumento de não imunizados na unidade. Muitos trabalhadores poderiam ficar em casa, em home office, aguardando a segunda dose, mas na cabeça do gestor a Covid-19 é apenas uma “gripezinha” e não da para ficar já que é importante “tocar o barco”. A parada de manutenção foi adiada 57 dias e isso não impediu em nada a execução do trabalho. Essa conquista só foi possível graças a luta dos trabalhadores que se respaldaram nos fatídicos exemplos ocorridos nas paradas de manutenção da Repar (8), Regap (7) e RPBC (4). No total foram 19 mortes por Covid-19. Os trabalhadores da UTGCA não negaram a ciência, não negaram os amargos números e não disseram "e daí?" e sim cruzaram os braços e lutaram pela vida de todos!