Gerente prioriza insumos para produção, deixando de abastecer plataforma com água e comida

Racionamento na P-70

Os petroleiros embarcados na plataforma P-70 estão passando por algo inusitado, ainda mais em tempos de distribuição recorde de dividendos aos acionistas pela Petrobrás: há dias faltam alimentos básicos das refeições dos trabalhadores, como leite e derivados, raízes, proteínas, iogurte, manteiga, verduras e legumes.

Como se já não fosse preocupante, o mais absurdo é que está faltando água potável na embarcação, e o geplat instituiu racionamento de água, a ponto de trancarem com cadeados as garrafas d’água, sendo entregue apenas uma garrafa por trabalhador, que só pode pegar outra se entregar a embalagem vazia. Há mais de três dias, os embarcados passaram comendo arroz, feijão e frango e só não ficaram sem pão porque enviaram farinha num dos vôos da tripulação.

Tudo isso porque o gerente da P-70 resolveu priorizar a produção, permitindo apenas o pouso na plataforma de aeronaves com suprimentos para os trabalhos na embarcação, e por falta de planejamento e incompetência da gestão, os alimentos dos trabalhadores foram impedidos de chegarem na plataforma.

Para piorar ainda mais a situação, com o estoque de água potável mais baixo, os gestores da P-70 decidiram, utilizando uma mangueira de combate a incêndio, pegar água do sistema de osmose reversa, do topside, sem análise da água, para abastecer o tanque de água doce, comprometendo a água que é usada para cozinhar, tomar banho, escovar os dentes etc, sem uma gestão de mudança eficaz, expondo todos ao risco de contaminação.

E parece que dessa vez o gestor da P-70, que se valia da vista grossa da alta cúpula para mandar e desmandar na plataforma, vai ter que responder sozinho pelos problemas que vem causando. O sindicato esteve em reunião com o RH, que informou que o geplat estava escondendo o problema da falta de comida, para priorizar o que estava fazendo.

Apesar do RH negar que sabia do problema na P-70, está claro que a falta do básico na plataforma não é uma decisão unilateral. A entrega de insumos nas plataformas passa por outras gerências, que juntamente com o geplat da P-70 optaram por priorizar a embarcação com antiespumante, que estava em falta e poderia impactar a produção. Ao priorizar a operação, a P-70 perdeu a janela para operar com a embarcação que estava com os ranchos e a água doce.

É um absurdo no ano em que a Petrobrás distribui de lucro, somente no primeiro semestre de 2022, R$ 136,3 bilhões aos acionistas, trabalhadores embarcados estarem racionando água e comida.

Infelizmente, é dessa forma que tratam o trabalhador. Se para quem está em terra o racionamento de água e comida parece inimaginável, o que dirão centenas de trabalhadores, isolados em alto mar, privados do básico?

Nesta quinta-feira (18) após vários dias do problema, e depois de ser notificada pelo sindicato, a Petrobrás finalmente mandou água e comida para a P-70. Para isso, adiou para amanhã (sexta) o vôo dos trabalhadores que iriam desembarcar de folga hoje.

Diante do lucro que a Petrobrás teve com os dias de racionamento na P-70 e do prejuízo que causaram aos trabalhadores que iriam desembarcara, *o sindicato cobrou que sejam pagas as passagens de retorno da folga para os trabalhadores que moram em outros estados, pois foi decisão da empresa cancelar o desembarque para entregar o que faltava, mais uma vez priorizando os interesses da empresa sob os dos trabalhadores. Em resposta, a empresa se comprometeu em avaliar a possibilidade de pagar.*

Caso os gestores da plataforma digam que não vão pagar as passagens, o trabalhador tem todo direito de se mobilizar e se negar a desembarcar, até que a empresa pague sua passagem. Outra alternativa é que o trabalhador prejudicado encaminhe documentação comprovando o prejuízo, para que o jurídico do sindicato cobre a empresa na justiça.