Privatiza que melhora? BR Distribuidora e Cosipa são a prova de que melhora apenas para o empresariado

Falácia

Muito se fala a frase “privatiza que melhora”, mas pouco se sabe na prática o que isso representa.  A privatização não só lesa o país, com a diminuição do tamanho do Estado, como também atinge, em cheio, a classe trabalhadora. Antes de ser privatizada, a BR Distribuidora tinha o papel de abastecer o Brasil de combustíveis e energia ao menor preço posssível. Após um ano da conclusão da venda total da empresa, liquidada no ano passado, o preço dos combustíveis vendidos nos postos da marca são os mais caros do país. A saída da Petrobrás do campo de distribuição fez com que três empresas privadas detenham quase 60%  da venda da gasolina no Brasil. Graças a isso, a empresa divulgou um  lucro estratosférico. No período de um ano houve um salto de 85,1%, passando de R$ 382 milhões, no segundo trimestre de 2021, para R$ 707 milhões no  mesmo periodo de 2022. Neste ano a gestão da empresa aprovou uma mudança na política de dividendos e vai desembolsar R$ 797 milhões para os acionistas.

Apesar dos números vultuosos, os trabalhadores da Vibra Energia, antiga BR Distribuidora, têm sofrido sucessivos golpes desde que a subsidiária foi vendida. O primeiro deles é a mudança no contrato de trabalho, submetido à vontade dos administradores da empresa. Os novos “donos”  promoveram uma verdadeira demissão em massa, pautada em um PIDV, retirada de direitos, estabelecidos no ACT da categoria após muitos anos de luta e migração para Convenção Coletiva do setor. Logo em seguida veio a imposição de um novo plano de previdência e alteração no custeio do plano de saúde. 

Além de todos esses ataques, os trabalhadores terceirizados foram “convidados” para se tornarem próprios com salários super-reduzidos. Os trabalhadores recusaram a proposta e prefeririam ficar como estavam. Para forçar uma situação, a gestão da empresa, não renovou os contratos com as terceirizadas, o que obrigou a força de trabalho a aceitar a proposta rebaixada para não ficarem desempregados. A situação para os terceirizados no Brasil não difere dos “próprios” da

Vibra cuja condição de trabalho é extremamente precarizada. A preocupação da empresa é unica e exclusivamente encher os bolsos dos acionistas e sempre encontrar a melhor  forma de explorar a mão de obra a um custo baixo. 
A situação da ex-BR Distribuidora demonstra na prática que a privatização só é vantajosa para o empresariado que se aproveita da crise do país para lucrar às custas do suor da classe trabalhadora. 

Cosipa/Usiminas - do auge ao sucateamento
A Cosipa foi criada em 1953 como empresa estatal, que tinha por objetivo desenvolver o país, e não gerar lucro para acionistas. Na década de 1970, com o alto forno em operação, chegou a atingir uma produção de 3 milhões e 500 mil toneladas de aço.

O desmonte da Usiminas é uma tragédia anunciada e tem caminhado a passos largos, desde que a Cosipa foi privatizada em 1993. No auge, a empresa empregava 13.500 trabalhadores próprios, dos quais restaram pouco menos de 10% desse total. A partir da privatização, diversos setores da companhia foram parar nas mãos de empresas contratadas. Dos 18 mil empregados terceirizados antes da privatização, restaram cerca de seis mil, número que vem sendo reduzido a menos da metade com os cortes previstos. Com a política de salários baixos, falta de segurança e a prática de alta rotatividade de pessoal para achatar os salários, o Grupo Usiminas teve anos de lucros milionários quando anunciaram em 2015 prejuízo de mais de R$ 100 milhões para justificar uma demissão em massa. Aliás, apresentar um quadro de crise nas empresas virou carta na manga da patronal para realizar demissões em massa e aumentar a lucratividade dos grupos financeiros. O prejuízo da Usiminas na época, segundo a imprensa especializada em economia, deve-se a uma manipulação contábil, chamada pelo mercado de impairment, que aponta as distorções entre valores reais de ativos e sua projeção no mercado, sempre desfavoráveis e suscetíveis a fatores externos, como alta do dólar e queda da indústria. Considerando o lançamento de créditos fiscais no valor líquido de R$ 319,4 milhões e a “adequação” ao mercado, o lucro líquido da Usiminas teria chegado a R$ 382,8 milhões de abril a junho, mais que o triplo de um ano antes.

Testemunhas da época da privatização da Cosipa lembram o quanto o Governo Federal investiu na siderúrgica para logo depois vendê-la, sem considerar o que foi investido, mais uma vez beneficiando os grupos investidores. Depois de privatizada a siderúrgica foi sugada, sucateada até não interessar mais aos investidores, que simplesmente fecharam a unidade, deixando desempregados milhares de trabalhadores da região.