Sindicatos realizam campanha “Saúde dos trabalhadores desempregados: quem cuida?” em Cubatão

Ação Social


A Comissão de Desempregados de Cubatão e Sindicatos da União Sindical de Cubatão, composta pelos sindicatos dos petroleiros, construção civil, metalúrgicos e Associação dos Trabalhadores Desempregados de Cubatão, realizou na sexta-feira (11) a campanha “Saúde dos trabalhadores desempregados: quem cuida?”, voltada para a saúde dos trabalhadores da região. A iniciativa busca conscientizar sobre a importância do cuidado com a saúde física e mental, oferecendo uma série de atividades e serviços essenciais.
A programação do evento incluiu uma palestra, testes de hepatites pela ONG Grupo Esperança, aplicação de vacinas da gripe tetravalente, triagem da saúde com testes de glicemia e pressão, avaliações médicas individuais, atendimento de assistência social para orientações sobre serviços disponíveis e a presença do Grupo Redução de Danos da Unifesp para abordar questões de saúde mental.

“Essa ação solidária, que visa atender os trabalhadores e as trabalhadoras desempregadas, não será a primeira e única. O objetivo é que ela se torne uma campanha para assistir esses trabalhadores e trabalhadoras que estão desamparados, dando suporte e orientação médica”, disse Marcelo Juvenal Vasco, diretor do Sindipetro-LP e um dos organizadores do evento.

Para Juvenal, a ação é importante, pois quando está empregado, geralmente o trabalhador tem maior acesso a serviços médicos periódicos ou um plano de saúde. Porém, com a falta de emprego, quando mais precisa de atenção à saúde física e mental, não tem assistência.

Durante os últimos anos, temos visto o adoecimento da classe trabalhadora, principalmente doenças psicológicas como depressão, ansiedade e outras relacionadas à saúde mental, que para a pessoa desempregada podem ser ainda mais graves. Sem suporte psicológico e tendo que prover suas famílias sem ter de onde tirar, muitas pessoas acabam buscando “conforto” mascarando seus problemas com os efeitos do álcool e outras drogas.

O atendimento do grupo de RD na ação social promovida pelos sindicatos buscou apresentar esse suporte para as pessoas desempregadas. “Muitas pessoas que vivenciam, por exemplo, a perda do trabalho, vão vivenciar como um fracasso pessoal. Entendem como sendo um problema seu, quando é um problema social. Vivemos em uma sociedade excludente, competitiva, que tem substituído o trabalho humano por máquinas. Hoje se exige um trabalho super especializado e as pessoas vão sendo expulsas desses espaços, dessas relações”, explica Luciana Surjus, professora da Universidade Federal de São Paulo, em Santos, que coordena o “Grupo de Pesquisa e Extensão Diversa”.

O grupo tem desenvolvido informações e ações de redução de danos (RD). “A maior conexão que a gente pode fazer da redução de danos (RD) com a saúde do trabalhador que está desempregado é pensar que, às vezes, as pessoas, para lidar com as suas dificuldades, vão utilizar os recursos que estão disponíveis nos produtos que têm. Muitas vezes a droga entra como um elemento, quase como um remédio, para aquela dor que você não consegue explicar, que você não consegue lidar. Para a sociedade, muitas vezes isso é visto como um problema de caráter”, explica.

Interessados em saber mais sobre o projeto de redução de Danos da Unifesp, podem acessá-los buscando por div3rsounifesp, no Instagram, ou contatá-los pelo telefone (13) 3512-2700, ou Email: gestao.reducaodedanos@gmail.com.  O projeto acontece na Unifesp, localizada na Rua Silva Jardim, 136, Vila Mathias, em Santos.

Assista a entrevista com Luciana Surjus na integra

Diante das dificuldades do cotidiano, ações como o projeto de Redução de Danos são essenciais para tentar resgatar essas pessoas, como Angelo Galdino, um dos assistidos pelo projeto de redução de danos da Unifesp. Angelo passou por problemas que o levaram para o álcool e a cocaína. O vício o tirou do convívio com a família por três anos e o fez perder o emprego. A falta de perspectiva agravou cada vez mais sua situação, até que, em 2018, viu um conhecido chamado Jardim, que também morava na rua, aparecer “diferente”, o que chamou sua atenção. “Pra mim eu achava que já não tinha mais jeito. Conheci o projeto que o Jardim me apresentou e fui até a Universidade, lugar que eu nunca tinha entrado na vida. Lá fui recebido pela Luciana e o Odair. Depois fui saber que ela era coordenadora do projeto e ele diretor da Unifesp. ‘Me receberam como igual, não me perguntaram se morava na rua, se tinha usado drogas. Nas conversas minha opinião valia tanto quanto a dos psicólogos, médicos, pessoas com estudo que se sentavam ao meu lado’.”

Envolvido pelo projeto, Angelo passou a beber menos, principalmente nas vésperas de atividades do grupo. “Não bebia domingo porque na segunda tinha a RD, na quarta e na quinta também tinha atividades, então com o tempo fui reduzindo cada vez mais. Ainda tenho recaídas, mas cada vez mais tenho me controlado”. Graças à sua recuperação, Angelo voltou para a casa depois de morar por seis anos nas ruas de Santos.

Paralelo à RD, professores e alunos voluntários criaram um grupo de estudos em 2019, para ajudar os interessados a dar continuidade aos estudos. Angelo participou das aulas e ao final de um ano fez a prova do ENCCEJA (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) e conseguiu eliminar os anos que faltavam para terminar o ensino médio. No mesmo ano, se inscreveu no Enem. “Naquele ano não entrei porque me confundi na hora de preencher o gabarito. Acabei respondendo as questões em inglês e espanhol e na hora de passar para o papel as respostas não bateram”. Em 2021, Angelo fez o Enem e dessa vez conseguiu nota para entrar no curso que queria: Serviço Social. “Escolhi esse curso porque tem tudo a ver com o que aconteceu comigo, foi graças à ação Social que estou conseguindo me reerguer”, conclui.

Veja o depoimento completo de Angelo no vídeo abaixo

Mais de 100 trabalhadores participaram das ações promovidas pelos sindicatos na Associação dos Trabalhadores Desempregados de Cubatão.

Para além das lutas por melhores salários e condições de emprego, a campanha “Saúde dos trabalhadores desempregados: quem cuida?” pretende ser mais um braço de assistência dos sindicatos aos trabalhadores. Parabéns aos envolvidos!