Segundo Abrapp, mesmo diante do cenário mais positivo no país, Fundos de pensão devem ter déficit em 2023

R$ 17,3 bilhões

Os fundos de pensão devem ter novamente um ano de resultado negativo em 2023, mesmo diante do cenário mais positivo para a bolsa em dezembro, estima a Abrapp, associação que representa o setor. O déficit do sistema foi de R$ 17,3 bilhões no primeiro semestre, uma queda de 69% em comparação com o resultado negativo de R$ 55,6 bilhões um ano antes.

A associação traçou três cenários para o Ibovespa em 2023. No mais otimista deles, o principal índice da B3 chegará aos 130 mil pontos. Caso se confirme, a carteira consolidada deve encerrar o ano com alta de 13,11%, impulsionada por uma valorização de quase 16% da renda variável. Hoje, as alocações dos fundos em bolsa representam 12,2% do total das aplicações, correspondente a quase R$ 139 bilhões, segundo os dados mais recentes da Abrapp.

“Mesmo no melhor cenário, o déficit vai diminuir, mas não será zerado”, disse o presidente da Abrapp, Jarbas de Biagi, em entrevista a jornalistas. O executivo afirmou que, mesmo quando a tendência de resultado se reverter, pontualmente “um ou outro plano” terá déficit.

Um segundo cenário projetado pela Abrapp aponta o principal indicador da B3 aos 121 mil pontos em dezembro, o que levaria a uma rentabilidade de cerca de 12% para a carteira dos fundos de pensão. Neste caso, a valorização da renda variável seria de 5,77%. No pior cenário, com o Ibovespa aos 98 mil pontos no fim do ano, os investimentos em bolsa das fundações teriam resultado negativo de 14,38% e a rentabilidade da carteira consolidada ficaria em 9,31%.

A indústria alcançou R$ 1,2 trilhão em ativos no primeiro semestre de 2023, um crescimento anual de 6,28%. O sistema acumulou rentabilidade de 6,02%, acima da TJP (Taxa de Juros Padrão, o rendimento mínimo para cumprimento das metas atuariais), que fechou a 4,99% no período. Para Biagi, os dados mostram que o sistema teve um desempenho sólido e refletem uma gestão eficaz dos recursos.

O executivo reconhece que, mesmo diante da queda dos juros, os títulos públicos continuam oferecendo rentabilidades atraentes para os planos, reiterando afirmações recentes de gestores da Previ (fundo dos funcionários do Banco do Brasil), Funcef (Caixa) e Petros (Petrobras). Ainda assim, o presidente da Abrapp acredita que haverá um movimento natural em direção a ativos em renda variável. Segundo ele, também foi apresentada ao governo um proposta de debêntures de infraestrutura, com participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e marcadas na curva. “Para que o investimento em infraestrutura se concretize, o título teria que ter uma garantia adicional”, afirmou Biagi.

O executivo voltou a citar pleitos do setor como o aumento do limite para operações no exterior e mudanças nas regras de investimento em imóveis. A Abrapp também participa de discussões com o governo para mudanças na marcação dos títulos públicos dos planos de contribuição definida, que hoje deve ser feita a mercado. O objetivo é retornar à marcação na curva, que reduz a volatilidade dos resultados.

Fonte: Valor Investe