Comissão Nacional da Verdade
No dia 16 de agosto, a sede do Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista foi palco de uma importante reunião entre o Ministério Público Federal, vítimas e descendentes de vítimas da Ditadura Militar no Brasil. O encontro teve como foco as ações da Companhia Docas de Santos durante o regime militar.
As vítimas da ditadura e seus familiares exigem que a Companhia Docas reconheça os crimes cometidos e peça desculpas pelos abusos praticados. Além disso, querem que essa história seja incluída no currículo escolar, garantindo que as novas gerações conheçam os fatos conforme ocorreram. Outra demanda é que a empresa financie a produção de livros, cartilhas e outros materiais educativos que relatem os acontecimentos do período. Entre as propostas de reparação, também está a renomeação de ruas que atualmente homenageiam torturadores e pessoas envolvidas na perseguição e prisão de trabalhadores.
Fundada em 1888, a Companhia Docas de Santos foi responsável pela administração do porto de Santos por quase um século, até 1980. Atualmente, a empresa é investigada por sua cumplicidade com a ditadura empresarial-militar brasileira. Durante o regime militar, os proprietários e diretores da Docas financiaram o golpe de 1964 e os aparatos repressivos da ditadura, além de cederem as instalações da empresa para servirem como centro de operações da ocupação militar na Baixada Santista logo após o golpe.
“Há casos documentados de tortura praticada pela Guarda Portuária, como a extração de unhas de trabalhadores, além de prisões no navio Raul Soares”, relata Sebastião Neto, coordenador do Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas (IIEP) e membro do Projeto de Memória da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo. Neto também anunciou a criação do Fórum por Verdade, Justiça e Reparação, com o apoio do Sindipetro-LP e da Frente Sindical Classista.
O tema é particularmente sensível aos petroleiros, que foram também perseguidos, presos e condenados pela Ditadura Militar no Brasil. A Petrobrás é uma das 14 empresas investigadas por envolvimento com a ditadura, ao lado de outras como Folha de S.Paulo, Josapar, Aracruz, Cobrasma S.A., Fiat, Volkswagen, Paranapanema, CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Itaipu Binacional e o Porto de Santos (Autoridade Portuária).
Segundo Cesar Kluge, Procurador do Trabalho, a reunião foi a primeira oportunidade para ouvir as demandas das vítimas diretas e indiretas, incluindo familiares de perseguidos políticos. "Vamos considerar todas as reivindicações, listá-las, e este processo não termina aqui. Ainda dependerá de novas conversas para construir uma pauta de reivindicações que seja legítima para as vítimas", concluiu.