No Rio de Janeiro
Lançada pela Boitempo e apoiada pelo IIEP, a obra reúne artigos sobre os anos de chumbo dentro da maior empresa brasileira e aborda a perspectiva da Justiça de Transição e políticas de memória e reparação
Na última quarta-feira (21/08), aconteceu o lançamento do livro Petrobras e Petroleiros na Ditadura: Trabalho, Repressão e Resistência, publicado pela editora Boitempo, com o apoio do Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas (IIEP).
O evento foi prestigiado por mais de 100 pessoas, que lotaram o auditório Evaristo de Moraes Filho, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ), no centro do Rio de Janeiro.
A obra analisa o contexto de criação da Petrobras e a sua aliança com o regime militar-empresarial (1964-1985), explorando as consequências dessa colaboração para a categoria petroleira e seus sindicatos, além dos impactos em populações urbanas vulnerabilizadas, como o incêndio na Vila Socó (Cubatão/SP), em 1984; e as implicações para os povos indígenas do Vale do Javari (Atalaia do Norte/AM), afetados por atividades sísmicas da empresa em seus territórios.
O livro reúne artigos dos seguintes pesquisadores acadêmicos: Luci Praun, Alex de Souza Ivo, Carlos Freitas, Claudia Costa, Julio Cesar Pereira de Carvalho, Luiz Marques, Márcia Costa Misi, Marcos de Almeida Matos e Vitor Cerqueira Góis.
No evento, alguns dos autores apresentaram detalhes sobre a metodologia de pesquisa e o conteúdo da obra, que também tem por objetivo fomentar o debate sobre a Justiça de Transição e das políticas de memória, justiça e reparação.
“Desde a sua criação, a Petrobras foi uma empresa militarizada. Mas a qualificação da militarização na Petrobras em 1964 é feita por militares imbuídos da doutrina de combate aos ‘inimigos internos’, da Escola Superior de Guerra, que era realizada por meios ideológicos, psicológicos e físicos. Esses ‘inimigos internos’ eram todos aqueles que lutavam por ampliação de direitos, em defesa da economia nacional, e, automaticamente, recebiam a alcunha de comunistas, subversivos. Portanto, deveriam ser exterminados”, relembrou o pesquisador Júlio Cesar Pereira de Carvalho, um dos autores do livro.
“Quando a gente fala ‘para que nunca mais se repita’, a gente não está falando do passado, a gente está falando do presente. O passado é um pretexto, no bom sentido, pra gente pensar que presente é esse que a gente vive. E a Petrobras não tem um compromisso apenas com o passado, mas com o presente, ou seja, o que ela reproduz até hoje dessas violações e violências na relação com os seus trabalhadores e trabalhadoras. Uma empresa que tem um alto número de trabalhadores se suicidando, isso diz alguma coisa sobre as relações de trabalho dentro dessa empresa”, alertou a pesquisadora Luci Praun, uma das autoras do livro.
Uma das perspectivas do trabalho organizado no livro é munir os sindicatos com informações para que as entidades representativas da categoria petroleira possam pleitear medidas de reparação junto à Petrobras e ao governo federal.
“Isso aqui é um ato político de exigência que o governo Lula e a direção da Petrobras promovam reparação a todos os vitimados. (…) Entre as medidas de reparação, além de abrir seus arquivos, exigimos que a Petrobras instale centros de memória na sua sede, nas unidades, nomeie setores da empresa, unidades produtivas, com os nomes dos companheiros que foram perseguidos”, destacou Bruno Terribas, diretor da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), em sua intervenção no evento.
“Estamos juntos com o pessoal da Vila Socó, estamos juntos com o pessoal do Vale do Javari. Se a Petrobras praticou essas violações, nós, petroleiros que queremos uma outra Petrobras, temos que participar dessa luta por justiça e reparação a todos os vitimados”, ressaltou Antony Devalle, diretor da FNP.
Fabíola Mônica, diretora da FNP, foi uma vítima direta do regime ditatorial instaurado na Petrobras. Ela foi demitida por motivação política em 1983. Muito emocionada, ela deu o seu testemunho no lançamento do livro, reforçando um ponto: “É uma questão de honra pra gente acolher a todos aqueles que a Petrobras fez o que fez. E a gente sabe o que ela fez”.
Fonte: FNP