Anos de chumbo
No último sábado (9), o Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista foi palco do lançamento do livro “Petrobrás e petroleiros na ditadura: trabalho, repressão e resistência”, uma obra que mergulha na história de resistência dos petroleiros durante o regime militar, revelando aspectos cruciais sobre o impacto da ditadura na categoria e a luta por direitos ao longo de um período marcado por intensa repressão política.
O evento contou com a participação de sindicalistas e ativistas da região, além de familiares do petroleiro Ubirajara Franco, que era membro ativo do movimento sindical e do Sindipetro-LP durante os anos de chumbo, enfrentando os desafios impostos pelo regime militar. Ele foi preso político e demitido durante a ditadura, sendo anistiado somente 21 anos e dois meses após sua detenção.
Na ocasião, as autoras do livro, Luci Praun e Cláudia Costa, falaram sobre o processo de desenvolvimento e pesquisa da obra. O material foi dividido em quatro partes e conta com a autoria de mais sete pesquisadores.
“Esse é o nosso principal desejo. E que esse livro sirva também como um instrumento de luta. É para isso que fazemos pesquisa, para poder devolver para a classe trabalhadora, para que ela possa se valer do que foi feito aqui, junto com ela, porque aqui tem a fala dos trabalhadores petroleiros, para que possamos fortalecer a nossa luta, que precisa disso”, afirma Cláudia. A autora explicou ainda que o livro é resultado de uma pesquisa encomendada pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, financiada por verba do TAC da Volkswagen.
A obra revisita a história da ditadura sob o olhar dos trabalhadores e do envolvimento empresarial, destacando a colaboração ativa de diversas empresas com o regime militar, que visavam um ambiente mais exploratório para a classe trabalhadora. A obra se estrutura em duas partes: a primeira aborda a fundação da Petrobrás e o papel dos trabalhadores na construção da empresa, enquanto a segunda examina a repressão contra os petroleiros, cuja organização e resistência ameaçavam o regime ditatorial. A autora finalizou enfatizando que o livro visa não só informar, mas também servir de suporte para a luta dos trabalhadores, mostrando como, historicamente, a categoria resistiu e se organizou frente às adversidades.
“Nós estudamos a história para que ela não se repita nunca mais”, pontua Luci. Como bem colocou Luci, essa pesquisa só faz sentido se contribuir para a luta atual, o que inclui um capítulo sobre meio ambiente, onde a Petrobrás desempenha um papel sensível.
Antônio Neto, Sebastião Neto e Murilo Leal, do Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisa, também estiveram à mesa e trataram sobre política e história da ditadura no país. Fruto de uma investigação realizada ao longo dos últimos anos, o livro aprofunda e amplia o conhecimento limitado sobre a colaboração da Petrobrás com o brutal regime de exceção que imperou no país durante 21 anos.
Os autores relembraram as dificuldades enfrentadas e superadas durante a ditadura, destacando que o movimento operário já enfrentou poderosos e que esse legado de luta deve inspirar a resistência atual. Eles criticaram a repressão contra greves e o aumento da exploração trabalhista, exemplificando com cortes de empregos e salários em grandes empresas, mesmo em países desenvolvidos, e sugeriram que isso é um reflexo da crise econômica mundial.
O objetivo agora é unificar as forças no Fórum, ganhando o apoio de todos para fortalecer essa iniciativa. Em Santos, conhecido como centro de debate sindical, a presença de pessoas comprometidas com a preservação da memória histórica é fundamental.
Eventos desse tipo são um compromisso do Sindipetro com a categoria e a sociedade como um todo, de resgate e reconhecimento daqueles que merecem ser lembrados por sua luta.
A fala de encerramento destacou a necessidade de uma justiça de transição que não apenas resgate a verdade, mas também ofereça reparações efetivas para aqueles que sofreram abusos, além de mobilizar a população para continuar pressionando por justiça social. O evento foi um marco na luta por memória e reparação, reforçando a importância de manter viva a história da resistência e dos direitos dos trabalhadores frente às adversidades.
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