Dia da Consciência Negra
Na semana em que se celebra o Dia da Consciência Negra,nesta quarta-feira, 20 de novembro, os casos de racismo continuam a ocupar manchetes nos principais veículos de comunicação, confirmando que a luta contra o racismo e pela valorização da cultura negra ainda está longe de ser vencida. Um episódio recente, ocorrido em Americana, São Paulo, durante um jogo de handebol entre alunos de direito da PUC e da USP, exemplifica essa realidade. Torcedores adversários dirigiram ofensas racistas a estudantes negros da USP, com gritos como "cotista filho da p***" e "manda o Pix da esmola". Apesar da ampla repercussão negativa, a resposta das universidades limitou-se a uma nota conjunta prometendo investigar o caso, sem ações imediatas para punir os envolvidos, mesmo com vídeos e fotos disponíveis.
Num país onde 55,5% da população se identifica como preta ou parda, é espantoso que ainda seja necessário justificar a importância desta data. O Dia da Consciência Negra celebra a rica contribuição dos afro-brasileiros à sociedade. Na cultura, a música, a dança e a culinária carregam profundas influências africanas. Na religiosidade, tradições de matriz africana enriqueceram o sincretismo brasileiro. Intelectuais como Machado de Assis e Lélia Gonzalez, ativistas como Zumbi dos Palmares, Luiz Gama e Marielle Franco, além de artistas como Gilberto Gil e atletas como Pelé e Rafaela Silva, são exemplos de legados transformadores.
O Dia da Consciência Negra também celebra a rica contribuição dos afro-brasileiros à sociedade. Na cultura, a música, a dança e a culinária carregam profundas influências africanas. Na religiosidade, tradições de matriz africana enriqueceram o sincretismo brasileiro. Intelectuais como Machado de Assis e Lélia Gonzalez, ativistas como Zumbi dos Palmares e Marielle Franco, além de artistas como Gilberto Gil e atletas como Pelé e Rafaela Silva, são exemplos de legados transformadores.
A data convida também à reflexão sobre os privilégios brancos que, historicamente, limitam a ascensão de uma maioria negra, enquanto a cor da pele segue determinando o acesso a empregos, salários e oportunidades mais justas.
O racismo no Brasil manifesta-se de formas diversas:
- Nos esportes, ofensas a atletas negros são frequentes, mostrando como o preconceito está presente até em momentos de celebração coletiva.
- No mercado de trabalho, pessoas negras recebem, em média, 40% menos que pessoas brancas, mesmo em funções equivalentes, e ocupam majoritariamente empregos informais ou subalternos. A presença de negros em cargos de liderança é rara, reflexo de um racismo estrutural que dificulta o avanço profissional.
- Na política, a representatividade ainda é baixa: apenas 26% dos parlamentares se declaram negros, apesar de essa população representar mais da metade do país.
- Na educação, somente 37% dos jovens negros entre 18 e 24 anos têm acesso ao ensino superior, reflexo das desigualdades históricas no investimento em escolas públicas, predominantemente frequentadas por alunos negros.
- Na segurança pública, o racismo é ainda mais evidente: 77% das vítimas de homicídios no Brasil são negras, e 66% da população carcerária também é composta por pessoas negras, um dado que escancara a seletividade racial do sistema penal.
- Na saúde, mulheres negras enfrentam uma taxa de mortalidade materna 65% maior do que mulheres brancas, reflexo de um racismo institucional que dificulta o acesso a cuidados de qualidade.
Apesar desse cenário, há iniciativas que buscam reduzir desigualdades. Na Petrobrás, onde 31,6% dos empregados são negros, foi lançado o Programa de Mentoria Negritudes Petrobrás, que visa aumentar a representatividade negra nos cargos de liderança. Atualmente, dos 1.054 cargos de liderança, apenas 14% são ocupados por negros, e o objetivo do programa é elevar esse número para 25% até 2028. Esse é um exemplo de esforço que infelizmente só é possível ver acontecer em uma empresa estatal, onde políticas sociais reparatórias podem ser exigidas aos gestores de empresas em que o governo detém poder decisório e onde é possível enfrentar o racismo estrutural e promover inclusão.
O Dia da Consciência Negra, celebrado pela primeira vez como feriado nacional em 2024, vai além de uma data simbólica. É um momento de reconhecer os desafios enfrentados pela população negra e reforçar a importância de ações afirmativas no combate ao racismo estrutural. A ocasião convida à reflexão e ao compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. A luta nunca acaba.
