Sindipetro-LP lança Serviço de Saúde Coletiva e fortelece cuidado com os trabalhadores e trabalhadoras

"Valdemar Barbosa do Amaral"

O Sindipetro-LP lançou, neste mês de março, o Serviço de Saúde Coletiva, voltado para os trabalhadores e trabalhadoras petroleiros, próprios e contratados, aposentados(as) e pensionistas. O objetivo é fortalecer o vínculo com os associados e promover o cuidado com a saúde. A criação desse serviço representa um marco na história da entidade, resultado de um trabalho coletivo e do envolvimento de diversos diretores, com a proposta de ampliar o alcance das ações de saúde no sindicato.
O serviço foi batizado de Serviço de Saúde Coletiva do Trabalhador e Trabalhadora “Valdemar Barbosa do Amaral”, em homenagem ao diretor e petroleiro da UTGCA, que foi um dos principais articuladores desse projeto, mas faleceu em dezembro de 2024, vítima de uma doença possivelmente relacionada ao trabalho, sem ver sua concretização. Nomear o serviço em sua memória é, além de uma homenagem à sua luta, um compromisso com a continuidade do combate aos adoecimentos e acidentes de trabalho. 

O projeto é coordenado por Sandra Lorena Beltrán Hurtado, fisioterapeuta especialista em saúde do trabalhador. Além de contar com toda a estrutura do sindicato voltada para a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, o serviço terá parcerias com outras instituições para atuar diretamente nos processos de trabalho da empresa.

Sandra ressaltou a importância da articulação entre o sindicato e outras entidades para melhorar as condições de trabalho e promover mudanças estruturais. Para Sandra, apesar do papel essencial do sindicato, a atuação isolada não é suficiente. Para isso, a iniciativa busca envolver CIPAs e CIPLATs, representantes do Ministério do Trabalho, pesquisadores da Fundacentro, auditores fiscais e a rede pública de saúde (SUS), incluindo os Cerestes (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador) de Santos, Cubatão e São José dos Campos, além de estruturas como CAPS, CRAS e INSS.

Sandra também aponta como importante o apoio do Ministério Público do Trabalho, de sindicatos parceiros – como os dos metalúrgicos e da construção civil – e de universidades locais, com as quais o Sindipetro-LP pretende firmar colaborações em pesquisa e extensão. Uma novidade anunciada no Seminário é a tentativa de envolver setores da própria empresa, para que compreendam a importância da prevenção e da construção de mudanças estruturais.

A articulação com essas entidades será adaptada a cada situação, podendo incluir coleta e análise de dados, mediação de negociações com a empresa e encaminhamento de casos. Sandra destacou, ainda, a necessidade de atenção especial aos trabalhadores Contratados, que representam mais de 60% da força de trabalho na base e enfrentam os maiores riscos. O compromisso do sindicato é identificar as necessidades desse grupo e ampliar sua atuação em conjunto com as entidades que os representam.

O Serviço de Saúde também atuará junto à mídia local, universidades e instituições parceiras, por meio do setor de imprensa do sindicato, trabalhando conjuntamente com o Departamento de Formação para fortalecer o diálogo e a troca de conhecimentos.

Expansão para o Litoral Norte
Outro ponto importante é a atuação no Litoral Norte, região que tem crescido nos últimos anos e onde se localizam o Terminal Almirante Barroso (Tebar) e a Unidade de Tratamento de Gás de Caraguatatuba (UTGCA), além de novas perspectivas de empreendimentos. Com o novo serviço, o sindicato assume o compromisso de garantir que o atendimento também será oferecido nessa região.

O serviço também agirá em parceria com o Departamento de Terceirizados, que atua junto a uma das categorias das mais afetadas por condições insalubres e adoecedoras. Mesmo sem representação legal direta sobre esses trabalhadores, o sindicato buscará formas de garantir que tenham acesso ao suporte necessário.

Relatos de trabalhadores
Durante o seminário de lançamento, um depoimento impactante foi o de uma trabalhadora contratada que atuou por 16 anos na RPBC e sofreu assédio moral e sexual dentro da unidade. O caso comoveu a todos, revelando a fragilidade das estruturas da Petrobrás para lidar com esse tipo de situação.

A trabalhadora relatou que o assédio partiu de seu superior hierárquico, um engenheiro, e se prolongou por meses. Inicialmente, ela não compreendia que os males físicos e psicológicos que enfrentava estavam relacionados à violência que sofria. Após assistir a uma palestra da empresa sobre assédio – que seu agressor ironizava como “blábláblá” – e receber o apoio de colegas, decidiu denunciar ao compliance da contratada.

A resposta da empresa, no entanto, foi desastrosa: no primeiro contato, sentiu-se desamparada e tratada como a provocadora da situação. Como resultado, o agressor foi promovido, e ela, demitida.

Diante dessa injustiça, seus colegas sugeriram que procurasse Fábio Mello, diretor do Sindipetro-LP, conhecido por sua atuação com os trabalhadores contratados. Ao encontrá-lo por acaso em um restaurante da RPBC, contou sua história. A partir daí, Mello a encaminhou ao Sindipetro-LP, onde recebeu atendimento psicológico com a doutora Marcella Moretti e foi encaminhada pela assistente social Pamela Passos para o Cereste, que a acolheu, inclusive a aconselhando a procurar um psiquiatra, para tratar dos problemas que adquiriu pelo assédio. O Cerest então reconheceu a relação entre seu adoecimento e o trabalho, e conseguiu o afastamento pelo INSS. A trabalhadora também formalizou uma denúncia ao Ministério do Trabalho e Emprego, mas ainda aguarda resposta.

"Se a empresa tivesse aplicado a lei e tomado as medidas corretas, o assediador teria sido demitido e muitos dos problemas de saúde que enfrento hoje poderiam ter sido evitados", desabafou.
Outro depoimento marcante foi o de Jeová Fragoso, diretor do Sindipetro-LP, que destacou a importância do Serviço de Saúde Coletiva. Jeová contou que, em determinado momento, exames hepáticos apontaram alterações em seu fígado. O médico da empresa, sem uma investigação adequada, sugeriu que ele reduzisse o consumo de álcool, insinuando que os resultados estavam relacionados à bebida – mesmo ele bebendo apenas ocasionalmente. O médico ainda ameaçou relatar o caso à chefia, gerando pressão psicológica.

Essa abordagem superficial gerou grande pressão sobre ele, e Jeová acredita que, se na época houvesse um canal como o Serviço de Saúde Coletiva, poderia ter contestado esse diagnóstico equivocado.

A assistente social Pamela Passos também relatou um caso emblemático: um trabalhador afastado pelo INSS por problemas de saúde mental teve seu adoecimento finalmente reconhecido como de origem ocupacional após ser acolhido pelo sindicato e encaminhado ao Cereste, que emitiu a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho). A partir desse caso, outros seis trabalhadores do mesmo setor foram entrevistados, revelando problemas estruturais e sobrecarga de trabalho, agora sendo tratados de forma coletiva.

A dentista Thatiana de Oliveira Val Ozore, recém-contratada pelo Sindipetro-LP, explicou que sua atuação no serviço tem dois objetivos principais: manter o atendimento odontológico convencional e adotar uma abordagem preventiva, identificando doenças bucais relacionadas ao trabalho, como o bruxismo causado por estresse ocupacional.

Por fim, Marcella Moretti, psicóloga do sindicato, ressaltou que sua atuação passou a focar na prevenção de adoecimentos mentais, buscando identificar problemas antes de se tornarem irreversíveis. Ela destacou que algumas gestões adoecedoras persistem, mesmo após mudanças de liderança, reforçando a necessidade de uma abordagem coletiva para transformar o ambiente de trabalho.

O Serviço de Saúde Coletiva foi apresentado na sexta-feira (21), durante um seminário que reuniu lideranças sindicais, membros de CIPAs, estudantes e os pesquisadores Mara Alice Batista Conti Takahashi, do Instituto Walter Lesser, José Marçal Jackson Filho, pesquisador da Fundacentro e Angela Paula Simonelli, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O serviço foi criado com o apoio do diretor Fabio Santos e Marcelo Juvenal Vasco, ex diretor do Sindipetro-LP e dos responsáveis pela pasta de Saúde do Sindicato: Cristiano M. das Neves, Eli Ferreira, André Ramalho, Eduardo Lara, Jeová Fragoso, Raimundo Gaia, Renato Rodrigues e Claudia Cristina L. dos Reis. O evento marcou a etapa final do Laboratório de Mudanças (LM), iniciado em 2021, cujas pesquisas, estudos, debates e entrevistas serviram de base para a criação do projeto.

Com esse novo serviço, o Sindipetro-LP reafirma seu compromisso de cuidar da saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, combatendo doenças ocupacionais, assédio e precarização do trabalho, e promovendo mudanças estruturais reais.