30 anos da Greve de 1995 e o legado de Luta da categoria petroleira: resistência, repressão e vitórias

Histórico

A greve dos petroleiros de 1995 é um dos marcos mais importantes da história do movimento sindical brasileiro e completa 30 anos neste ano, sendo sempre lembrada, até mesmo por quem não a viveu. Iniciada em 3 de maio daquele ano, a paralisação foi motivada pelo descumprimento, pelo governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), de acordos firmados com a categoria ainda em 1994, sob a presidência de Itamar Franco. Mas as razões iam além: os trabalhadores enfrentavam perdas salariais acumuladas, a ameaça de privatização da Petrobrás e a quebra do monopólio estatal do petróleo, parte de um projeto neoliberal que buscava desmontar conquistas históricas da classe trabalhadora.  

Durante 32 dias, refinarias foram ocupadas, o Exército foi mobilizado para reprimir grevistas, e a Justiça impôs multas milionárias aos sindicatos. A mídia, alinhada ao governo, tentou desmoralizar o movimento com a falsa narrativa de que faltariam combustíveis e gás de cozinha, buscando isolar os petroleiros da população. Mas a categoria resistiu. Mais de 90% dos trabalhadores aderiram à greve de norte a sul do país, paralisando refinarias, plataformas e unidades administrativas.  

A repressão foi brutal. No dia 9 de maio, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) declarou a greve abusiva, ignorando a legitimidade das reivindicações. Na madrugada do dia 24, o Exército ocupou refinarias no Paraná (REPAR), Paulínia (REPLAN), Mauá (RECAP) e São José dos Campos (REVAP). A Petrobrás cortou salários e demitiu 59 trabalhadores, incluindo dirigentes sindicais. Apesar disso, a categoria não recuou.  

A greve só foi encerrada em 2 de junho, após pressão de uma frente parlamentar que intermediou negociações. A Petrobrás recuou, cancelando punições e parcelando os dias parados. Em Cubatão, porém, os trabalhadores da Refinaria Presidente Bernardes (RPBC) resistiram por mais um dia, apoiados por familiares que se revezavam em barracas de apoio. A vitória não foi total, mas a greve deixou um legado inegável: nove anos depois, os demitidos foram reintegrados, fruto de uma longa batalha judicial e da pressão sindical.  

O Fundo de Greve: Solidariedade que sustentou a Luta
Embora o Fundo de Greve tenha sido criado em 1991 pelo Sindipetro-LP como uma iniciativa pioneira para amparar os trabalhadores durante mobilizações, em 1995 ele não possuía saldo disponível. Frente à ausência de recursos, os petroleiros demonstraram sua força coletiva ao organizar a arrecadação de R$ 0,01 por trabalhador, criando um novo fundo emergencial. Essa mobilização serviu para dar suporte aos trabalhadores perseguidos e demitidos que participaram da greve.

Mais do que um mecanismo de apoio financeiro, o fundo representou a união da categoria e sua capacidade de organização em meio à criminalização do movimento pela grande imprensa e pelo governo. Atualmente, o Fundo de Greve é administrado pela Associação Beneficente e Cultural dos Petroleiros (ABCP), fundada em 2011 para gerenciá-lo de forma independente do sindicato, garantindo maior proteção contra bloqueios judiciais em caso de greves.

Se a greve de 1995 impediu, por um tempo, a privatização direta da Petrobrás, não conseguiu frear o avanço da terceirização. Nos anos seguintes, o modelo de contratação precarizada se expandiu, e hoje, para cada petroleiro próprio, há cerca de quatro terceirizados no sistema Petrobrás.  

O golpe parlamentar de 2016, que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, acelerou esse processo. A Lei da Terceirização (13.429/2017), aprovada sob o governo Temer, permitiu a terceirização irrestrita, rebaixando salários e piorando condições de trabalho.
 Enquanto os petroleiros concursados lutavam para manter direitos conquistados, os terceirizados enfrentavam jornadas exaustivas, rebaixamento de remuneração e abandono de práticas básicas de segurança no trabalho.  

Diante desse cenário, inspirados pela mobilização de 1995, os trabalhadores contratados, organizados pelo Sindipetro-LP, Metalúrgicos, Sindicato da Construção Civil e Associação dos Trabalhadores Desempregados de Cubatão, unificaram-se em torno da luta pela tabela salarial unificada, buscando equiparar salários e condições entre próprios e terceirizados. Hoje a Tabela Salarial é praticada pela maioria das empresa contratadas na área da refinaria e UTE e quando não é os trabalhadores já sabem o caminho que devem percorrer: a luta!

A greve de 1995 não foi apenas uma resistência por valorização salarial—foi uma defesa da Petrobrás como empresa estratégica para o Brasil. Seu legado vive nas lutas atuais contra a terceirização, na defesa dos direitos dos trabalhadores e na mobilização por um projeto energético soberano.  

Os petroleiros provaram, ao longo das décadas, que a união e a organização são armas poderosas contra a precarização. Se em 1995 enfrentaram tanques e demissões, hoje enfrentam a flexibilização dos direitos trabalhistas e a sanha pela privatização arraigada em gestores da empresa, que empregam todas as forças pela retirada de direitos. 

A história dos petroleiros é a história de quem não se curva. E, nela, a greve de 1995 permanece como um farol, lembrando que nenhum direito é conquistado sem luta.

Saiba mais sobre a história do Sindicato e da categoria petroleira acessando nossa página Memória Sindipetro-LP.