Petrobrás escancara sua incoerência: para furar a greve, vale tudo — até o teletrabalho integral

Dois pesos e duas medidas

Estamos no terceiro dia de greve dos trabalhadores administrativos da Petrobrás no Litoral Paulista — e, até aqui, a gestão da empresa vem demonstrando mais habilidade em "conceder" pequenos avanços, inventar desculpas do que em apresentar soluções concretas. O motivo do movimento é claro: a defesa do teletrabalho, direito conquistado na pandemia e cada vez mais ameaçado por uma gestão que flerta com o retrocesso.

A Petrobrás, guiada por Magda Chambriard, com sua retórica corporativa bem polida, alega que a volta ao trabalho presencial “fortalece a cultura organizacional”, “acelera processos de gestão” e “garante resultados estratégicos”. Até aí, parece tudo muito bonito — no papel.

Mas quando os trabalhadores cruzam os braços em defesa de condições mais dignas de trabalho, o discurso da alta cúpula escorrega na prática. Quem não aderiu à greve, por exemplo, recebeu um presente inesperado: liberação para fazer teletrabalho integral. Sim, aquilo que é "prejudicial à cultura organizacional" de repente virou solução temporária para tentar esvaziar o movimento.

A incoerência chega ao ponto de beirar o ridículo: se a greve continuar por 30 dias, a empresa já admite que todos ficarão em home office integral nesse período. Ou seja, para furar a greve, o teletrabalho é bom, eficiente e estratégico. Mas no acordo com os sindicatos, ele passa a ser um “risco” para a integração da equipe.

Que tipo de cultura organizacional é essa que só se sustenta com repressão e chantagem? Ao que tudo indica, a Petrobras só acredita na presença física dos trabalhadores quando ela pode ser imposta. Mas basta o risco de mobilização crescer que, de repente, os computadores em casa viram solução milagrosa.

Na proposta da empresa, os trabalhadores devem ir ao escritório três vezes por semana, com dois dias em home office. Já na realidade dos fatos, os mesmos gestores que se recusam a dialogar com seriedade oferecem teletrabalho integral para quem furar a greve. A mensagem subliminar é clara: vale tudo para desmobilizar, inclusive contradizer o próprio discurso.

Essa é a gestão da Petrobrás em 2025: moderninha no PowerPoint, mas autoritária no trato com os trabalhadores. Fala em resultados estratégicos, mas ignora os impactos do retorno forçado ao presencial, como custos com transporte, impacto ambiental e piora da qualidade de vida. Fala em integração, mas quer uma equipe amedrontada e dividida.

A greve continua. E se depender da resistência dos trabalhadores, essa farsa não vai passar batida. Porque quem merece respeito é quem trabalha, não quem se contradiz em notas oficiais para esconder um projeto autoritário de gestão.