Petroleiros pressionam Petrobrás por reparação histórica devido à colaboração com a ditadura

Anos de chumbo

Painel realizado no 15° Congresso da FNP debateu a responsabilidade da empresa por violações de direitos durante o regime militar e estratégias para garantir memória e justiça

Na tarde de sexta-feira (06/06), o 15º Congresso Nacional da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), realizado em Santos (SP), promoveu o “Painel da Luta pela Reparação: o caso Petrobras”. 

O encontro reuniu pesquisadores e militantes históricos que discutiram a responsabilidade de empresas, especialmente da estatal do petróleo por violações de direitos humanos durante a ditadura civil-militar (1964–1985).

Participaram do debate a professora e pesquisadora da Universidade Federal do Acre (UFAC), Luci Praun; o coordenador do Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas (IIEP), Sebastião Melo; e o anistiado político Antônio Fernandes “César” Neto. 

Os dois primeiros integram a equipe responsável pelo livro Petrobras e Petroleiros na Ditadura: Trabalho, Repressão e Resistência, lançado pela editora Boitempo em 2024. A obra resulta de uma pesquisa realizada entre 2021 e 2023, que investigou a colaboração da Petrobras com o regime autoritário.

“O golpe empresarial-militar contra a classe trabalhadora não é passado. Basta olhar o avanço da extrema direita para entender que isso segue presente”, afirmou Luci Praun. 

Segundo ela, as vítimas do regime não se restringiram aos trabalhadores perseguidos e demitidos. Familiares, advogados, vizinhos e outros também foram atingidos pela repressão.

Levantamento do IIEP indica que a perseguição aos petroleiros foi particularmente intensa. A categoria, que se organizava intensamente nos anos 1960, foi alvo de monitoramento constante, até mesmo anterior ao golpe de 1964. 

Segundo Luci, mais de 3 mil empregados da Petrobras foram vigiados, e a empresa chegou a compartilhar informações com outras companhias.

A história dos trabalhadores importa

“Todo mundo conhece as histórias dos artistas perseguidos pela ditadura, mas ninguém fala da classe trabalhadora”, lembrou Antônio Fernandes Neto. Expulso do curso de medicina no quarto ano, ele foi perseguido também na Argentina e no Paraguai.

Antônio Neto destacou o protagonismo do sindicalismo na Baixada Santista durante os anos 1960, especialmente por meio do Fórum Sindical de Debates, que unia diversas categorias da região. 

“Paramos a Baixada dez vezes em 30 meses”, relembrou. Ele destaca que o golpe de 1964 foi direcionado contra os trabalhadores, sindicatos e os movimentos sociais. “Ou vocês acham que a burguesia dorme? Ou que a ABIN deixou de existir? Nós precisamos cobrar as empresas que sustentaram a ditadura”, pontuou.

Já o pesquisador Sebastião Neto informou que há, hoje, 13 inquéritos em andamento no Ministério Público Federal e no Ministério Público do Trabalho contra companhias que colaboraram com o regime militar. 

Para ele, o caso da Petrobras é emblemático, por reunir fatores como abrangência nacional e sobrevivência de muitas testemunhas.

“Os petroleiros têm sindicatos fortes e capilaridade nacional. Isso é uma vantagem. Até hoje a Petrobras não respondeu nada para nós. Ela se esquiva, adia reuniões, não se compromete”, alertou.

Para Sebastião Neto, é essencial que a FNP e os sindicatos cobrem reparações da estatal. “Vocês precisam acessar os documentos. A empresa não cede para nós. Mas vocês podem”, disse.  

Os pesquisadores destacam ainda que o movimento petroleiro necessita cobrar medidas concretas de memória, como a instalação de placas, memoriais e outras formas de homenagem aos perseguidos políticos para que essa história não seja apagada.