Luto
Na manhã desta segunda-feira (23), trabalhadores e dirigentes sindicais protestaram em frente à Refinaria de Paulínia (Replan), em repúdio à morte de Carlos Rodrigo Medeiros, de 43 anos, vítima de um acidente fatal de trabalho ocorrido na unidade. O operário era contratado da empresa terceirizada QWS e foi atingido na cabeça por um boleado de trocador de calor, que se deslocou em movimento de pêndulo durante uma operação de içamento. Apesar de ter sido socorrido e levado ao hospital, não resistiu à gravidade dos ferimentos e faleceu após uma parada cardiorrespiratória.
A manifestação teve início nas primeiras horas da manhã e durou cerca de quatro horas. No encerramento, em um gesto simbólico de luto e indignação, as trabalhadoras e os trabalhadores viraram as costas para a refinaria e foram embora.
A morte de Carlos Rodrigo é mais uma entre tantas tragédias anunciadas nas unidades do Sistema Petrobrás — fruto direto de anos de terceirização, cortes de custo, precarização e enxugamento dos efetivos próprios. A política da morte, escorada no lucro a qualquer custo, segue fazendo vítimas. E a maioria esmagadora dessas vítimas veste uniforme terceirizado.
"A terceirização, apontada como ferramenta de exploração, divide os trabalhadores, impõe salários menores, menos direitos, maior jornada e expõe vidas a riscos inadmissíveis", destacou durante o ato Márcio André da Silva, coordenador do Sindipetro-LP.
Em sua fala, Márcio destacou ainda que:
Terceirizados ganham, em média, 27% a menos;
Trabalham cerca de 3 horas a mais por semana;
Ficam, em média, 3 anos a menos nas empresas, com alta rotatividade;
São menos treinados e mais expostos a atividades insalubres, penosas e perigosas;
8 em cada 10 acidentes e doenças do trabalho atingem terceirizados;
4 em cada 5 mortes no trabalho são com terceirizados.
Carlos não está só. É parte de uma longa lista de tragédias evitáveis: vazamento no Tebar, efetivo reduzido na UTGCA e na Alemoa, da engenheira atropelada, os três trabalhadores que caíram da plataforma em Angra, calotes de contratadas e a politica nefasta de contratação em todo o Sistema. A Petrobrás tem sangue nas mãos. E a cada nova vítima, se repete o roteiro da omissão.
O Sindipetro-LP e as entidades exigem apuração rigorosa da morte de Carlos Rodrigo, responsabilização das empresas envolvidas e mudanças estruturais nas práticas de segurança do trabalho. É inadmissível que vidas continuem sendo sacrificadas em nome de metas de produção e redução de custos .Roupa de trabalhador não pode ser mortalha!
A legislação é clara. Segundo a NR-01, o trabalhador pode e deve recusar atividades que ofereçam risco grave e iminente à sua vida ou saúde. O empregador, uma vez notificado, não pode exigir a retomada das atividades até que o problema esteja resolvido.
Não vamos nos calar. Onde há organização da força de trabalho, há resistência. Onde há silêncio, a morte se repete.
Carlos Rodrigo Medeiros, presente!