Caos
Os trabalhadores e trabalhadoras da P-69, assistidos pelo Sindipetro-LP, vivem uma rotina de incertezas e prejuízos provocados pela desorganização da logística aérea offshore da Petrobrás. Relatos apontam que os atrasos ocorrem inclusive em dias de tempo bom, sem qualquer justificativa climática local. Soma-se a isso a falta de aeronaves suficientes para atender a demanda, situação que agrava ainda mais o quadro e gera remanejamentos constantes. O resultado é a redução das folgas dos trabalhadores, a perda de passagens já compradas para as pessoas retornarem pra casa, e a insegurança jurídica, já que a empresa interpreta o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) de forma a não reconhecer como hora extra o tempo perdido no desembarque.
O caso mais recente, quando um voo previsto para 7h10 só decolou às 11h20, ilustra o problema. Segundo o próprio padrão de transporte aéreo offshore da Petrobrás (PE-2LEP-00120), atrasos superiores a 4 horas deveriam resultar no agendamento imediato da transferência do voo, de forma a evitar que os passageiros fiquem por horas no aeroporto aguardando por uma definição.
A consequência prática dessa política é ainda mais grave. Houve casos em que o pessoal da manutenção ficou dois dias seguidos sem rendição em alguns postos de trabalho, para não gerar horas extras diante de voos cancelados ou transferidos. Teve trabalhador que ainda estava no camarote quando a turma que chegava à meia-noite desembarcou, porque a chefia os dispensou direto para descansar. Em outro episódio, o voo das 14h simplesmente não ocorreu: quem iria desembarcar voltou ao turno até a 0h, repetindo no dia seguinte, das 7h às 10h, novamente sem troca de turma e deixando áreas da plataforma sem cobertura adequada. Manobras como essas podem até parecer apenas ajustes administrativos, mas expõem a unidade a riscos sérios.
Além disso, em situações de acúmulo, a prioridade deveria ser clara: emergências e trocas de turma vêm antes de comitivas ou voos administrativos. Na prática, porém, os embarques extraordinários da campanha de UMS foram cortados, prejudicando trabalhadores que estavam escalados e já tinham comprado passagens aéreas, sob a justificativa de corte de gastos. Ao mesmo tempo, a empresa autoriza o embarque de profissionais vindos de outras plataformas, sem vivência na rotina da plataforma. Isso acaba sobrecarregando quem já está a bordo, que precisa manter as atividades regulares e ainda dar assistência aos que chegam.
Esse descumprimento das próprias regras internas mostra que a gestão não age por incapacidade, mas por escolha política: sacrificar a rotina e a segurança da categoria em nome de cumprir a ordem para “apertar os cintos”.
Não por acaso, o problema se soma às discussões do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) em curso. Na reunião da última terça-feira (16), a Petrobrás se mostrou relutante em negociar pontos centrais da pauta unificada apresentada pela FNP e pelos sindicatos das bases offshore. Essa pauta não caiu do céu: ela foi construída a partir das experiências e relatos da própria base embarcada, que vive diariamente problemas como os da P-69 e aponta soluções concretas. Entre as reivindicações estão: hotel no pré e pós-embarque, cobertura integral da logística de deslocamento, pagamento de horas extras pelo tempo de viagem e a revisão do tratamento do dia do desembarque, que hoje penaliza o trabalhador ao descontar indevidamente o início da sua folga,bem como o ressarcimento de passagens aéreas de retorna para casa, perdidas por culpa da empresa.
Na reunião, a FNP chamou atenção para a contradição da gestão: quando há atraso no embarque, a empresa garante hotel e passagem; mas quando o atraso é no desembarque, transfere toda a responsabilidade para a categoria.
O Sindipetro-LP reafirma que a saída está na luta coletiva. As conquistas não virão da boa vontade da empresa, mas da mobilização de cada petroleiro e petroleira. É hora de transformar a indignação em força organizada, de somar-se ao movimento pelo ACT, porque só assim será possível impor respeito às reivindicações que a categoria construiu de forma democrática e legítima.
