Trabalhadores da RPBC e UTE conquistam vitória na Intertek e reforçam luta por ACT e isonomia

Mobilização e resistência

O atraso nas entradas da RPBC e da UTE Euzébio Rocha, na manhã desta quarta-feira (22), teve um motivo claro: a luta por um ACT digno e pelo respeito aos direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras. A ação, convocada pelo Sindipetro-LP, contou com o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos, do Sindicato da Construção Civil, da Comissão dos Trabalhadores Desempregados de Cubatão.

O ato deixou claro qual será a resposta da categoria à segunda proposta da Petrobrás: rejeição. Considerada rebaixada, sem ganho real e sem avanços em cláusulas sociais fundamentais, a proposta é vista como um desrespeito à categoria que sustenta os recordes de produção e os lucros bilionários da empresa. Além da cobrança por um acordo coletivo justo, a paralisação teve caráter de advertência contra a precarização nas unidades operacionais. Como definiram os diretores sindicais, foi o momento de “apertar o parafuso” e mostrar que a reconstrução da Petrobrás só será completa com valorização de quem produz — com benefícios justos, condições dignas e respeito aos direitos coletivos.

“Escala de shopping, aqui não”: vitória dos trabalhadores e trabalhadoras da Intertek
A manhã também foi de celebração da vitória dos trabalhadores e trabalhadoras da Intertek, empresa de análises laboratoriais da RPBC. Após forte mobilização conjunta do Sindipetro-LP, dos sindicatos parceiros e da Comissão dos Trabalhadores Desempregados de Cubatão, a empresa recuou da tentativa de impor uma escala 6x1, em substituição ao turno de cinco turmas — equivalente ao regime praticado pelos petroleiros próprios.

A pressão da base e o apoio das entidades garantiram não só o recuo da empresa, mas também um reajuste de 100% no VA e um abono aos trabalhadores, reconhecendo na prática a força da mobilização e a legitimidade da luta sindical.
O coordenador do Sindipetro-LP, Márcio André, destacou que a resistência é o que impede retrocessos: “Na base do Sindipetro-LP, isso não vai acontecer. Aqui, se tentar impor retrocesso, vai ter resposta.”

Márcio também ressaltou que a mobilização do Litoral Paulista se soma à luta nacional pela isonomia entre trabalhadores offshore próprios e contratados, que ainda enfrentam diferenças injustificadas nas escalas de embarque.
“A maioria das empresas não pratica a escala 14x21, impondo jornadas mais exaustivas e menos humanas. É por isso que apoiamos a iniciativa do deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), que apresentou um projeto de lei para padronizar a escala 14x21”, explicou.

A proposta de Lindbergh busca corrigir uma distorção histórica: hoje, muitos contratados ainda cumprem a escala 14x14, enquanto a 14x21 — três semanas de descanso a cada 14 dias embarcados — é reconhecida como o modelo mais justo, humano e seguro.

“É na porta da refinaria que a gente conquista”
Durante o ato, o diretor do Sindipetro-LP Fábio Mello destacou que a vitória da Intertek é resultado direto da mobilização e da persistência dos trabalhadores, após mais de um ano de impasse sem acordo coletivo.
“Os trabalhadores ficaram mais de um ano sem acordo assinado porque a empresa se negava a negociar. Foi preciso parar, mostrar força na porta da refinaria, pra que o diálogo acontecesse.”

Mello ressaltou que a luta vai além da Intertek — é parte de um embate maior contra a política de “aperto do cinto” da Petrobrás, que contrasta com a farra bilionária dos dividendos aos acionistas.
“A empresa fala em reduzir custos, mas distribui lucros recordes. Enquanto isso, há trabalhadores sem refeitório, sem vale digno e com planos de saúde que não funcionam. Essa é a verdadeira contradição que estamos enfrentando.”

Trabalhadoras do restaurante mostram coragem e inspiram a base
A diretora do Sindipetro-LP Stefhanie Merino exaltou o exemplo das trabalhadoras do restaurante da RPBC, que enfrentam condições precárias, sobrecarga e desrespeito à jornada.
“Elas trabalham em um ambiente quente, apertado, com estrutura deficiente e mesmo assim seguem firmes. Garantir descanso, respeito e jornada digna é uma questão de humanidade.”
Ela lembrou que, assim como os técnicos da Intertek, essas trabalhadoras rejeitaram propostas rebaixadas que tentavam trocar direitos por abonos de valor irrisório.

“Essas mulheres mostraram coragem e consciência de classe. É esse espírito que precisa inspirar toda a categoria.”
Stefhanie também criticou a proposta de ACT sem ganho real e o fato de mais de 60% das ações da Petrobrás estarem nas mãos do mercado financeiro, o que perpetua a lógica de subordinação ao lucro dos acionistas:

“Enquanto o governo tenta reconstruir a Petrobrás, a atual gestão ainda obedece à lógica do mercado. Só a luta dos trabalhadores pode virar esse jogo.”

Saúde, alimentação e fiscalização de contratos
A mobilização também reforçou a cobrança por planos de saúde que realmente funcionem, já que muitas contratadas apresentam coberturas “de fachada”, sem garantir atendimento real aos trabalhadores. O Sindicato exige que a Petrobrás fiscalize de fato os contratos e não apenas documentos.

Outro ponto central foi a alimentação digna e isonômica, com restaurante gratuito e vale-alimentação mínimo de R$ 1.000, conforme a Lei 5.811/72, que assegura refeição in natura aos trabalhadores da indústria do petróleo.
Márcio André também destacou a importância dos fiscais de contrato e alertou sobre o risco da Petrobrás terceirizar essa função, o que fragilizaria o controle sobre as empresas contratadas.

“O fiscal de contrato é quem garante que o trabalhador receba o que é devido. Se a Petrobrás quiser realmente resolver o problema dos calotes, tem que assumir essa responsabilidade — e não repassar a tarefa a terceiros.”
Somente em 2025, já foram 17 casos de calote trabalhista no sistema Petrobrás, afetando milhares de famílias, o que reforça a necessidade de uma fiscalização direta e transparente.

Luta unificada por um ACT justo e sem retrocessos
Ao final, a direção do Sindipetro-LP reafirmou que a mobilização da RPBC e da UTE Euzébio Rocha é parte da luta nacional por um ACT digno, isonomia nas condições de trabalho e igualdade de direitos entre todos os trabalhadores e trabalhadoras — próprios e contratados.

O recado foi firme: “Podemos até não conquistar tudo de uma vez, mas não aceitaremos dar um passo atrás. Onde houver injustiça e precarização, haverá resistência.”