Pesquisa de ambiência expõe incoerências da Petrobrás e reforça urgência de mudanças no ACT 2025

Resultados

Nesta segunda-feira (24), a diretoria do Sindipetro-LP e os dirigentes da FNP se reuniram com a gestão da Petrobrás para tratar dos resultados da Pesquisa de Ambiência 2025, apresentada pela empresa como um instrumento estratégico para “ouvir” a força de trabalho. A Petrobrás explicou que o estudo utiliza escala Likert de cinco pontos para medir o grau de concordância dos empregados com diversas afirmações sobre o ambiente de trabalho. Esses dados alimentam o ISE, o Índice de Satisfação dos Empregados, composto por nove fatores centrais do clima organizacional, como remuneração, benefícios, treinamento e desenvolvimento, liderança imediata, comunicação, SMS e bem-estar, engajamento e espírito de equipe. Apesar da apresentação técnica, o que a pesquisa revela — e o que a direção do Sindicato cobrou duramente — é uma profunda contradição entre o discurso institucional e a vivência dos trabalhadores nas unidades.

Um exemplo clássico dessa contradição aparece na avaliação dos valores corporativos. Embora a empresa destaque que Integridade, Sustentabilidade, Inovação e Comprometimento tenham recebido notas altas, o valor que mede diretamente o tratamento dado aos trabalhadores, “Cuidado com as pessoas”, ficou muito abaixo dos demais, com apenas 56%. Para o Sindipetro-LP, esse resultado derruba qualquer narrativa de que a empresa coloca seus trabalhadores no centro das decisões. Na prática, prevalecem assédio, sobrecarga, insegurança operacional e decisões unilateralmente impostas, mostrando que o cuidado fica mais no discurso do que na realidade vivida.

A gestão da Petrobrás também destacou que as lideranças imediatas foram bem avaliadas, mas reconheceu alguns pontos extremamente mal avaliados pelos trabalhadores. 

A principal reclamação revelada pela pesquisa foi o avanço de nível, diretamente ligado ao golpe do PCAC/PCR, um problema antigo que a Petrobrás insiste em varrer para debaixo do tapete mesmo tendo em mãos, desde setembro de 2024, uma proposta unificada de um novo Plano de Cargos pronto e simplesmente suspenso. Somam-se a isso as baixas avaliações nos fatores de Reconhecimento e Recompensa, benefícios educacionais e teletrabalho, deixando evidente que os maiores incômodos da categoria estão justamente nos temas ligados à valorização profissional, progressão, desenvolvimento e condições reais de trabalho. Ou seja: a força de trabalho mostrou com clareza onde estão insatisfeitos, mas mesmo assim, no meio da negociação do ACT, a Petrobrás não apresenta nenhuma proposta que responda a essas demandas – todas elas absolutamente objetivas e presentes no dia a dia das unidades. 

Isso é mais uma prova de que a gestão atual opera um verdadeiro Robin Hood às avessas: quando se trata de trabalhadores, tudo é classificado como gasto; quando envolve acionistas – muitos estrangeiros –, torna-se prioridade estratégica. A empresa, bilionária e lucrativa, corta na carne de quem produz sua riqueza e mantém engavetadas soluções já prontas, ao mesmo tempo em que mantém intocável a política de dividendos recordes. Está tudo diante dela, escancarado e fácil de resolver, mas a escolha deliberada é sempre a mesma: tirar de quem trabalha para concentrar renda em quem não produz.

Um ponto criticado pelo Sindipetro-LP e a FNP foi a avaliação positiva de SMS. A Petrobrás não incluiu trabalhadores contratados na pesquisa, justamente o grupo mais exposto a acidentes, adoecimentos e até mortes no exercício das atividades operacionais. Essa exclusão cria uma “bolha estatística” que distorce a realidade e impede que a gestão enxergue o quadro real de segurança — ou, melhor dizendo, de insegurança — no Sistema Petrobrás.

A Petrobrás apresentou também seu plano de ação derivado da Pesquisa de Ambiência, mostrando como os resultados alimentam processos internos de RH, indicadores, estratégias e programas como o IPAS, o Programa Petrobrás de Bem-Estar e iniciativas de prevenção às violências no trabalho. Segundo a empresa, as gerências gerais, gerências críticas, diretorias e gerências executivas deverão elaborar planos específicos de ambiência quando apresentarem índices abaixo do esperado. O modelo prevê que áreas com desempenho 10 pontos percentuais abaixo do ISE da sua gerência executiva passem obrigatoriamente por ações corretivas, com foco especial nos itens que apresentam maiores lacunas. 

Embora a companhia tente demonstrar um ciclo estruturado de diagnóstico e melhoria, o Sindipetro-LP ressaltou que isso só terá efeito real se a Petrobrás romper com a lógica de decisões unilaterais e transformar os apontamentos da categoria em mudanças concretas, já que historicamente a empresa coleta dados, mas pouco altera a prática cotidiana nas unidades. Durante a reunião, a diretoria do Sindipetro-LP apresentou os questionamentos mais profundos da categoria, especialmente sobre o processo de escolha das lideranças. Segundo os diretores, os chefes continuam sendo escolhidos por proximidade pessoal com gestores já instalados no poder, e não com base em critérios objetivos, transparentes ou democráticos. Trabalhadores denunciam que muitos gerentes chegam ao cargo com boa capacidade técnica, mas sem nenhuma aptidão para gestão de pessoas, o que resulta em ambientes de trabalho tóxicos. Por isso, o Sindipetro-LP sugeriu que parte da escolha das gerências fosse realizada por meio de eleição direta dos empregados ou que ao menos uma parcela da avaliação fosse feita por votação das equipes que convivem diariamente com aquele gestor. Também foi defendida a substituição de gestores mal avaliados, ao invés da prática comum de promovê-los ou como é dito na rádio peão “cair pra cima” — como ocorreu em pesquisa anterior, quando um gestor reprovado pela equipe acabou sendo promovido dentro da Transpetro.

O Sindipetro e a FNP também propuseram que a Petrobrás abrisse uma consulta pública à força de trabalho para reformular as regras de seleção de gerentes, coordenadores e supervisores, já que hoje a categoria não confia no processo. 

O processo seletivo existe, mas é amplamente percebido como subjetivo, pouco transparente e permeado por indicações pessoais, o que reduz sua credibilidade. O Sindipetro-LP também sugeriu a implantação da avaliação 360º, permitindo que os próprios trabalhadores avaliem seus gestores, além de questionar se a empresa tem mapeado quais setores são mais bem ou mais mal avaliados e quais ações serão adotadas para corrigir distorções.

A resposta da Petrobrás foi evasiva: afirmou que não pretende adotar qualquer mecanismo de democracia participativa na escolha das chefias, alegando que a definição de gerentes é prerrogativa exclusiva do poder diretivo da empresa. Quanto à consulta pública, a empresa não deu resposta clara — limitou-se a afirmar que “vai aperfeiçoando o processo seletivo com o tempo”. Reconheceu ainda que sabe quais setores possuem avaliações negativas, mas não apresentou nenhum plano concreto para corrigir os problemas.

Ao final da reunião, ficou evidente para o Sindipetro-LP e para a FNP que a Pesquisa de Ambiência só terá credibilidade se resultar em mudanças reais. É fundamental que a Petrobrás deixe de tratar essas pesquisas como peças de marketing e passe a incorporá-las efetivamente nas políticas internas, nas discussões do ACT 2025 e, principalmente, na forma como escolhe e avalia suas lideranças. O cuidado com as pessoas não se demonstra em gráficos ou apresentações corporativas, mas na prática e no respeito diário ao trabalhador e à trabalhadora.