Trabalhadores enfrentam assédio coletivo e jornada ilegal enquanto empresa bate recorde de lucros

P-69 em alerta

Os relatos que chegam ao Sindipetro-LP sobre a situação na P-69 revelam um cenário que ultrapassa o limite do aceitável: assédio moral coletivo, violação sistemática do interstício, pressão por horas extras não pagas e um ambiente de medo que impede trabalhadores e trabalhadoras de sequer relatarem seus problemas. Nas últimas semanas, plataformas do Litoral Paulista realizaram inclusive paralisações de 24 horas, dentro das mobilizações do ACT, evidenciando o nível de desgaste e indignação da categoria diante da postura da Petrobrás.

Na última reunião da CIPA, a diretoria do Sindipetro-LP acompanhou a discussão e observou que, após a fala crítica do GEPLAT, nenhum trabalhador ou trabalhadora teve coragem de se manifestar. Durante a intervenção do sindicato, foram denunciados os atrasos de voo, a deformação do interstício e o impacto profundo desses abusos sobre a saúde mental da categoria. Mesmo assim, a fala não foi registrada em ata — uma omissão grave, que reforça o ambiente de intimidação e o esforço deliberado da empresa em apagar aquilo que contraria sua narrativa interna. Trata-se de uma postura que, para além de antissindical, afronta o papel legal da CIPA e esvazia sua função de proteção.

Outro ponto crítico é a violação do interstício, que não se negocia, não se vende e não se reduz. Trata-se de uma regra de saúde, e saúde não entra na lógica da “reforma” trabalhista do Temer. O que acontece nas plataformas, no entanto, é o completo avesso da legislação. Quando a Petrobrás não cumpre o horário de voo e o helicóptero atrasa — seja algumas horas, seja um dia inteiro — a empresa empurra o problema para o trabalhador, alterando o turno e desfigurando a jornada. O resultado é simples: jornadas de 12 horas ou mais, descumprimento constante do descanso mínimo e pressão para “fechar as horas do mês”, como se offshore fosse CLT de chão de fábrica. Toda hora trabalhada fora do período habitual é hora extra. Ponto. Mas isso está sendo sistematicamente negado.

E o impacto não é só físico. Os trabalhadores têm arcado com custos altos para remarcar passagens e conseguir voltar para suas cidades após atrasos e alterações de voo — prejuízos reais, imediatos e que pesam sobre o orçamento das famílias. Enquanto isso, qualquer tentativa de questionar a situação vira motivo de retaliação. Não é exagero dizer que o conjunto dessas práticas afeta diretamente a saúde mental, agravada pela pressão crescente e pelo medo de falar.

A contradição é escancarada: enquanto trabalhadores são pressionados, a empresa celebra lucros bilionários e distribui dividendos cada vez maiores aos acionistas. A lógica é clara — apertar o cerco em cima de quem opera, enquanto o topo comemora recordes financeiros. Em plataformas afretadas, onde o custo de exploração é maior, operadores recebem suas passagens e tratam deslocamento como parte do trabalho. Já naquelas administradas diretamente pela Petrobrás, o trabalhador arca sozinho com o desgaste e com o custo. É desigual, injusto e deliberado.

A categoria tem sido firme e não se cala. As plataformas do LP demonstram isso a cada ato, cada atraso e cada paralisação de 24 horas ou 12 horas, articuladas nacionalmente: a luta é legítima e necessária. A pauta é clara — respeito ao horário de trabalho, pagamento de todas as horas fora da jornada, garantia de passagem para cidade de origem, combate ao assédio moral em qualquer forma, registro transparente das denúncias nas CIPAs e, acima de tudo, respeito à saúde física e mental de quem sustenta a maior empresa do país.

Enquanto a empresa fingir que não vê, nós vamos seguir denunciando. Enquanto tentarem calar a plataforma, a categoria vai fazer barulho. E enquanto os gestores tentarem transformar medo em ferramenta de gestão, o sindicato vai transformar organização em resposta. A saúde dos trabalhadores e trabalhadoras não é moeda de troca, e a dignidade offshore não se negocia.