A Tribuna repercute desmonte da Petrobrás no estado de SP

Plataformas e Edisa

Confira abaixo, na íntegra, reportagem do Jornal A Tribuna 'Petrobras transfere empregados ao Rio', publicada na edição desta sexta-feira (22)

Petrobrás transfere empregados ao Rio

Por Sandro Thadeu

Em meio à pandemia de coronavírus, a Petrobras dá mais uma sinalização que pretende centralizar suas atividades no Rio de Janeiro e abandonar as atividades em São Paulo, o que provocará mais desemprego na Baixada Santista, fim de investimentos importantes e queda nas receitas estaduais e municipais.

O motivo dessa preocupação é o fato de a empresa ter informado que, a partir do próximo dia 1º, os 937 trabalhadores empregados em regime especial que atuam em sete plataformas de exploração e produção de petróleo e gás natural ligadas à Unidade de Negócios da Bacia de Santos serão transferidos ao Rio de Janeiro.

Adotada sob a justificativa oficial de reduzir custos, a medida vai impactar cerca de 20% desses empregados que vivem na Baixada Santista. Desde abril de 2018, os voos deixaram de partir do Aeroporto de Itanhaém e foram transferidos para o de Jacarepaguá (RJ).

Hoje, a empresa oferece o traslado de Santos até o aeródromo fluminense e vice-versa, mas isso acabará e o grupo será obrigado a custear do próprio bolso esses deslocamentos. Devido à contingência para mitigar os efeitos da pandemia de coronavírus, a estatal seguirá ofertando temporariamente esse transporte, assim como a hospedagem pré-embarque para os trabalhadores em regime offshore.

Perspectiva

A tendência é que, gradualmente, esses petroleiros venham a deixar a região, impactando diretamente na economia local. Segundo o coordenador do Departamento de Imprensa do Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista (Sindipetro-LP), Fábio Mello, os efeitos dessa medida tomada pela Petrobras vão além, porque não haverá mais sentido dela manter no edifício administrativo do Valongo, em Santos, todas as atividades de apoio para esses operadores.

“Podemos estar falando do fechamento de outros 600 a mil postos de trabalho. Isso sem contar o colapso que vai causar na região por causa dos restaurantes e outros negócios criados em torno do Edisa (edifício administrativo da Petrobras, no Valongo), onde hoje trabalham cerca de 2.500 pessoas”, justificou.

O impacto local no mercado de trabalho com essa decisão da Petrobras tende ser ainda maior. De acordo com Mello, para cada petroleiro da companhia, de um e meio a dois terceirizados são contratados. Na visão dele, dificilmente a empresa fará a transferência desse pessoal para o Rio.

“Vamos ter um desemprego em massa no momento pós-pandemia, quando haverá retomada plena das atividades econômicas. Será mais um duro golpe para a Baixada Santista, após o anúncio das demissões na Usiminas”, desabafou ele, que citou ainda o fato de Sindipetro- LP perder muitos associados com essa medida administrativa da Petrobras.

Efeito dominó

O coordenador do Departamento de Imprensa do Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista (Sindipetro-LP), Fábio Mello, teme que o esvaziamento gradual das atividades do Edisa possa ocasionar, em um futuro próximo, o encerramento das atividades no local, como ocorreu no ano passado com o tradicional prédio da empresa localizado na Avenida Paulista, na Capital. O sindicalista citou que, em 2019, houve uma transferência de Santos para o Rio de Janeiro de parte de profissionais ligados à área de exploração e produção, como geólogos e engenheiros. No início, a empresa pretendia erguer três torres no Valongo, mas apenas uma saiu do papel. Em entrevista para A Tribuna em fevereiro do ano passado, o gerente-geral da Petrobras na Bacia de Santos, João Ricardo Lafraia, explicou que não havia a previsão no plano de negócio para erguer os outros prédios.

Posicionamento oficial

A Gerência de Imprensa da Comunicação Institucional da empresa confirmou, em nota, que a partir do próximo dia 1º fará um ajuste administrativo na lotação dos empregados que atuam nas plataformas da Unidade de Negócios da Bacia de Santos.

“Desse grupo, cerca de 80% não moram na Baixada Santista. Com o ajuste, a Petrobras não arcará mais com os custos de deslocamento (até Jacarepaguá) ”.  A companhia não se manifestou sobre os questionamentos feitos por A Tribuna sobre a transferência de outros funcionários que atuam no prédio administrativo de Santos e um possível esvaziamento das atividades na Baixada Santista.

Decisão abala o setor econômico de Itanhaém

Com a decisão de transferir os petroleiros que trabalham nas sete plataformas offshore da Unidade de Negócios da Bacia de Santos para o Rio de Janeiro, a Petrobras acaba dando um ponto final na intenção de retomar os voos a partir do Aeroporto de Itanhaém.

Curiosamente, a estatal fez um investimento de R$ 14 milhões para modernizar as instalações e para a implantação da plataforma de embarque do equipamento.

Desde abril de 2018, esses funcionários estão embarcando para as essas estruturas em alto mar a partir do aeródromo de Jacarepaguá (RJ).

Uma consequência imediata da decisão da empresa foi o desligamento de 30 funcionários que trabalhavam na área de logística, segundo o Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista (Sindipetro-LP) e o prefeito de Itanhaém, Marco Aurélio Gomes (PSDB).

Essas medidas trouxeram grande impacto a taxistas, ao comércio e à rede hoteleira do município do Litoral Sul, segundo o coordenador do Departamento de Imprensa da entidade sindical, Fábio Mello, que está preocupado com o cenário atual.

“Apesar dos poucos voos existentes, a medida tomada pela empresa abalou a economia de Itanhaém. Quando não tinha embarque, o trabalhador utilizava a rede hoteleira. Se o voo atrasava, o pessoal comia nos restaurantes da Cidade”.

Impacto

Por sua vez, o chefe do Executivo de Itanhaém citou que, com o fim dos voos da Petrobras, houve a redução de 2.400 passageiros/mês no aeroporto, assim como queda no movimento de taxistas, restaurantes, hotéis e pousadas. Ele citou ainda que houve a redução de postos de trabalho nos hangares e na oferta de cursos específicos do setor.

“Reforço que a Cidade dispõe de um aeroporto pronto, em atividade e estruturado para operar voos offshore e aviação executiva, inclusive com terminal de passageiros que atende os protocolos internacionais de embarque/desembarque de trabalhadores das plataformas marítimas”.

Gomes se coloca à disposição para somar esforços com entidades e setores envolvidos para a manutenção das operações da Petrobras no Estado.

Clique aqui e acesse o pdf da matéria publicada no jornal impresso da Tribuna 

Confira a nota oficial do Sindipetro-LP sobre o tema.

Fonte: A Tribuna